Um pedaço do Céu na Terra

“Vendo-os, disse Jacó: ‘É o campo de Deus!’ E deu a esse lugar o nome de Maanaim.” Gênesis, 32:3

Sábado, 5 de novembro de 2022. Dezesseis horas.

Em passos religiosamente sincronizados, quatro mulheres caminham por uma estreita via de asfalto ladeada de árvores e arbustos. Todas de pele alva e cabelos negros, que escorrem harmonicamente até as finas cinturas. Elas vestem camisetas pretas e saias cinzas, longas o bastante para cobrir as canelas. A aparência sofisticadamente modesta tem um propósito: dali a algumas horas, as jovens participariam dos tradicionais cultos da Igreja Cristã Maranata (ICM). A cerimônia ocorreria no Maanaim Domingos Martins, às margens da BR-262, na Região Serrana do Espírito Santo.

As quatro mulheres, residentes em Vitória, enfrentaram 40 quilômetros de estrada para chegar àquelas plagas. Apresentam-se como Maria, Sara, Isabel e Noemi. Fazem o mesmo percurso de 15 em 15 dias, quando os fiéis se reúnem para os encontros religiosos. “Paz do Senhor”, dizem aos irmãos de fé que lhes cruzam o caminho. Lentamente, a estreita via de asfalto começa a ser preenchida por crianças, jovens, adultos e idosos. As conversas dos congregados se misturam com o gorjear dos sabiás-barrancos que sobrevoam as árvores próximas para averiguar se os ninhos permanecem intactos.

A aproximadamente 100 metros da estradinha acinzentada, em um pequeno escritório industrial, o pastor Josias Júnior recebe os jornalistas que participariam da cobertura dos cultos evangélicos. Naquele fim de semana, mil fiéis compareceriam ao Maanaim Domingos Martins. “E os senhores têm estrutura para receber tantas pessoas?”, perguntam os repórteres. “Não”, responde o religioso, aos risos. “Podemos acomodar até 4 mil membros.”

Tecnologia a serviço do meio ambiente

Não é para menos. A área ocupada do Maanaim é de 370 hectares, com 200 mil metros quadrados de área pavimentada e 30 mil metros quadrados de área construída. A infraestrutura do local, invejável aos países nórdicos, inclui alojamentos, restaurantes, estações de geração de energia, centros de tratamento de esgoto sanitário e sistemas de reutilização de água.

O engenheiro eletricista Weverton Suella, 41 anos, é um dos fiéis que contribuem para a manutenção dessa ampla infraestrutura. Ele explica que, a cada 1 milhão de litros de água utilizado nos eventos, 800 mil litros de água tratada voltam para os mananciais. “O sistema tem capacidade para tratar 6 litros de esgoto por segundo”, explica Suella, na ICM desde a infância. “A água tratada pode ser utilizada em plantas, faxinas e descargas.”

O Maanaim possui também uma estrutura para a coleta de água de chuva. Esse sistema tem 12,3 mil metros quadrados e distribui-se em telhados e calhas, que podem ser utilizados para o aproveitamento dessa água. A tecnologia permite que o líquido seja enviado para um reservatório de 100 metros cúbicos.

Para o consumo exclusivamente humano, há captação de água através da perfuração de poços. Esse líquido é bombeado para um complexo sistema de reservatórios, entre reservatórios de fibra e de alvenaria. A quantidade de água captada pelos voluntários é suficiente para abastecer o Maanaim durante os eventos.

Autonomia energética

Mas não é só isso, revelou Suella. A Igreja Cristã Maranata ainda pretende ampliar a geração de energia solar nos Maanains, porque é renovável e não poluente. No momento, considerando apenas Espírito Santo e Minas Gerais, existem 800 unidades da ICM com autonomia energética. Mas esse número deve crescer nos próximos anos, visto que os fiéis estão concluindo estudos de viabilidade técnica para a implantação desse conceito em outros Estados.

Estima-se que esse sistema possa resultar em uma economia de 95% no valor das contas de energia das igrejas. Só não deve chegar a zero por causa dos impostos, tão certos quanto a morte. A mais-valia ecológica também é grande, tendo em vista que o uso de energia solar contribui para a preservação do meio ambiente.

A captação de energia solar pode ocorrer por meio de usinas heliotérmicas, termossolares ou painéis fotovoltaicos. No sistema da ICM, que utiliza os painéis fotovoltaicos, há apenas a dependência da luz do Sol. Sempre haverá geração de energia, mesmo nos dias frios, nublados e chuvosos.

Sábado, 5 de novembro de 2022. Dezenove horas.

Ao lado de Suella, o pastor Anderson Álvares conta que o Maanaim dispõe de fazendas experimentais. “Elas possuem rebanhos de caprinos, ovinos e bovinos”, explicou o religioso, em conversa com jornalistas. “No momento, há 12 vacas leiteiras, que produzem 180 litros de leite por dia.”

A história é curiosa. Entre os bovinos, duas vacas leiteiras produzem um leite que pode ser consumido por quem sofre de intolerância à lactose. Esse produto apresenta alta frequência da proteína beta-caseína A2, que não provoca alergia e ainda ajuda a evitar o diabetes e os problemas cardíacos.

Para saciar a curiosidade dos jornalistas, Álvares decide levá-los às fazendas experimentais. Já era noite. “É melhor irmos de carro”, adverte o pastor. Dois profissionais embarcam em uma van amarela e partem rumo ao curral. Deparam com os bichos 20 minutos depois. “Incrível”, maravilham-se.

Álvares pede que os curiosos se recolham. A van sairá em instantes. Em 30 minutos, haverá um culto da Igreja Cristã Maranata. “Não podemos chegar atrasados”, salienta o pastor. Os jornalistas entram no veículo, que acende o farol no máximo antes de partir. Escureceu na Região Serrana do Espírito Santo. É difícil enxergar dois palmos à frente do nariz.

No meio do trajeto, Álvares vê três fiéis caminhando pelos terrenos irregulares do Maanaim. Duas meninas e um menino. Ao aproximar a van dos jovens, o pastor coloca a cabeça para fora da janela: “O que fazem aqui, à noite, andando por esses lados?”. Eles respondem: “Estamos indo para o culto”. Álvares para o veículo e pede que os três fiéis entrem nele. “Vocês não precisam andar sozinhos”, alertou. Eles entram no automóvel. O menino agradece: “Pastor bom é assim mesmo, aparece na hora certa para socorrer as ovelhas”.

Em poucos minutos, os passageiros encontram Maria, Sara, Isabel e Noemi na cerimônia religiosa da Igreja Cristã Maranata.

Alojamentos e chalés

Há 20 alojamentos coletivos e chalés, reservados para famílias e convidados. O Maanaim dispõe de 3,2 mil leitos.

Unidade médica e odontológica

A ICM tem uma equipe voluntária formada por 10 pessoas, entre médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. A unidade possui oito leitos, que englobam atendimento médico inicial e assistência médica complexa. Há também duas salas para atendimento odontológico. Os fiéis têm à disposição uma ambulância com UTI Móvel.

Auditório e salas de reuniões

Há dois auditórios no Maanaim, nos quais realizam-se treinamentos e capacitação dos voluntários. Também existem três salas de reuniões. Em cada um dos auditórios, a capacidade é de 2 mil pessoas.

Refeitórios e lanchonetes

O Maanaim possui 10 lanchonetes para atendimento ao público. Também dispõe de dois grandes refeitórios, capazes de receber 1,5 mil pessoas. A quantidade de refeições é calculada pelo número de fiéis inscritos nos seminários e nos encontros. Para um evento com mais de 2 mil pessoas, por exemplo, a ICM prepara 570 quilos de carne, 180 quilos de arroz, 120 quilos de feijão e 180 quilos de verduras e legumes. Alimentos como repolho, alface, salsa e cebolinha vêm das hortas plantadas no local. E as sobras das refeições vão para a compostagem, num sistema recém-instalado com base em biogás.

Segurança

Um sofisticado circuito de monitoramento, com mais de 60 câmeras, alcança todas as dependências do Maanaim. Em caso de ocorrência criminosa, a equipe de segurança aciona os agentes de segurança pública.

Educação ambiental

A ICM promove, desde cedo, um trabalho de educação ambiental. A iniciativa conta com a participação das crianças e dos adultos. Entre as tarefas, há o plantio de árvores e as atividades que envolvem coleta seletiva e preservação da natureza.

Corpo de Bombeiros

No Maanaim Domingos Martins, há plantão de 24 horas com brigadistas civis. Os profissionais são treinados por bombeiros militares do Estado. Esses grupos fazem procedimentos de primeiros socorros, captura de animais silvestres em área de ocupação humana e soltura em zona da mata, prevenção e combate a incêndios. Eles também fazem corte e poda de árvores em risco.

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Fonte: Revista Oeste


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