Janeiro Roxo: profissionais da saúde de Santos alertam sobre a hanseníase

Iniciada neste mês, a campanha Janeiro Roxo tem o objetivo de conscientizar a respeito da hanseníase, antigamente conhecida como lepra. A doença é crônica, infectocontagiosa e pode afetar desde a pele até os nervos. Para esclarecer mais a respeito do assunto, profissionais da Coordenadoria de Controle de Doenças Infectocontagiosas (CCDI) da Prefeitura de Santos esclarecem dúvidas sobre sintomas, tratamentos, entre outros aspectos da enfermidade.

Campanha Janeiro Roxo foi iniciada em Santos

“As pessoas precisam ter bem claro em mente que essa doença tem, sim, cura”, afirma a enfermeira responsável pelo Serviço de Hanseníase do CCDI, Lilia Emilia Correia. Apesar da possibilidade de a doença ficar incubada no corpo por anos antes de se manifestar, a profissional explica que o tratamento realizado pelo órgão municipal tem duração entre seis e 12 meses.

Para dar início à medicação, é preciso realizar o diagnóstico e, segundo a dermatologista da unidade, Maria Cristina Domingues Fernandes, quanto mais cedo a identificação da doença, melhores são os resultados do tratamento. “Quanto mais precoce esse diagnóstico, mais rápido é iniciado o tratamento e menos sequelas a pessoa tem chances de ter”, diz a dermatologista.

Segundo a médica, a doença acomete a pele, os olhos, o sistema nervoso periférico e até os rins, em alguns casos, causando sequelas como dormência nos nervos afetados, bem como dor e redução da força muscular, além de inchaço das articulações e deformidades. “Sem falar nas reações hansênicas como nódulos dolorosos sob a pele”, acrescenta Maria Cristina.

Além disso, a falta de sensibilidade também pode gerar a impercepção de machucados. “Como a pessoa não sente dor, ela pode se cortar, por exemplo, e não sentir o incômodo da ferida, então ela não trata, gera uma inflamação e o quadro vai piorando até ela perceber”, alerta a enfermeira.

Devido aos vários riscos da hanseníase, que atualmente acomete 13 pessoas na Cidade, a médica ressalta a importância de campanhas de conscientização. “É preciso que esse assunto esteja na mídia para que tanto os pacientes quanto os médicos se atentem mais aos sinais da doença, que muitas vezes é desconsiderada justamente por ser esquecida pela população”.

Dermatologia Maria Cristina e enfermeira Lilia Emília. Foto: Nathalia Filipe/PMS

SINTOMAS

O sintoma mais expressivo da hanseníase, principalmente no estágio inicial, é o surgimento, em qualquer parte do corpo, de uma ou mais manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas, acompanhadas da perda dos pêlos e da sensibilidade tátil, térmica e/ou dolorosa daquela parcela da pele. 

Outros sintomas são a sensação de fisgada, choque, dormência e formigamento ao longo do trajeto dos nervos dos membros; redução da transpiração nas áreas afetadas; pele e olhos ressecados; inchaço nas mãos e pés; feridas, sangramento e ressecamento no nariz; entre outros.

TRANSMISSÃO 

A transmissão da hanseníase é feita por meio de contato íntimo e prolongado com a pessoa infectada, pelas gotículas expelidas durante a fala, espirro ou tosse. Ou seja, o contágio ocorre por meio da convivência e, por isso, a transmissão em ônibus, por exemplo, onde o contato costuma ser curto, é praticamente descartada.

Também é preciso ter predisposição genética para desenvolver a doença. “Se o pai tem hanseníase, por exemplo, os filhos têm grandes chances de ter, visto que eles são uma cópia genética de seus genitores. Nós já tivemos aqui situações em que o marido tinha e a esposa não, justamente porque eles não compartilhavam o mesmo gene”, conta Lilia.

Dermatologia Maria Cristina e enfermeira Lilia Emília. Foto: Nathalia Filipe/PMS

PREVENÇÃO

Como a transmissão acontece por meio do convívio, a prevenção é feita por meio da aplicação da vacina BCG nos contatantes do indivíduo infectado. As profissionais explicam que são examinados todos aqueles que entraram em contato com o paciente e, se estes não apresentarem lesões ou a presença de bacilos (bactérias), recebem o imunizante.

Elas esclarecem que, apesar da BCG ser ministrada contra a tuberculose, a vacina também contribui para a luta contra a hanseníase, visto que a tuberculose também é um tipo de bacilo. “Com a vacina, a pessoa tem menos chance de pegar a doença”, afirma a dermatologista. “A prevenção é justamente para interromper essa cadeia de contágio”, complementa a enfermeira.

Também é importante lembrar que a BCG é aplicada em bebês recém-nascidos e só pode ser reaplicada mais uma vez na vida, ou seja, se o paciente já tiver recebido a segunda dose por algum motivo, não poderá ser imunizado novamente, mesmo que tenha tido contato com um indivíduo infectado.

TRATAMENTO NO CCDI

O munícipe chega ao CCDI por meio de demanda livre, quando o próprio paciente se dirige diretamente ao órgão, ou por encaminhamento por unidades de saúde, sejam públicas, como UPAs e policlínicas, ou particulares. No local, portando documentos e o encaminhamento, é realizado agendamento com uma enfermeira que, caso confirme a suspeita, repassa o caso à dermatologista.

“Chegam casos em que já foi feito o diagnóstico, mas também recebemos muitas pessoas que ainda precisam dessa confirmação. Nós até preferimos que, em caso de dúvida, os pacientes sejam encaminhados para cá, assim é possível analisar e já dar início ao tratamento, caso seja necessário”, afirma Lilia.

Coordenadoria de Controle de Doenças Infectocontagiosas fica na Vila Mathias

O atendimento na unidade é realizado de forma interdisciplinar, com a realização de diversos exames como biópsia, baciloscopia e eletroneuromiografia, além de passagem por fisioterapeuta, oftalmologista, neurologista e psicólogo, caso haja necessidade.

Após avaliação, dá-se início ao tratamento gratuito, que é baseado em antibióticos variados. É ministrada uma dose mensal e supervisionada pelos profissionais do CCDI e, nos demais dias, outros dois comprimidos são tomados diariamente pelo paciente, em sua própria residência. “Na primeira dose do antibiótico, já são eliminados mais de 90% dos bacilos e o paciente já para de transmitir a doença”, explica a enfermeira responsável pelo serviço.

O tempo de tratamento varia de acordo com a quantidade de bacilos presentes no organismo da pessoa infectada: seis meses para paucibacilares (com poucos bacilos) e 12 para multibacilares (com muitos bacilos). “Os paucibacilares não transmitem e a doença se desenvolve mais devagar, porém, estes precisam ser igualmente tratados, senão a hanseníase também evolui para estágios mais avançados”, ressalta a dermatologista. Apesar do tempo de tratamento, o acompanhamento do paciente pode durar anos.

SERVIÇO

A Coordenadoria de Controle de Doenças Infectocontagiosas fica na Rua da Constituição, nº 556, na Vila Mathias, e funciona de segunda a sexta, das 8h às 16h. O atendimento é exclusivo para moradores de Santos.

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Fonte: Prefeitura de Santos


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