Executivos da Americanas se encontravam em ‘salas blindadas’ para planejar fraudes

As investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) no caso Americanas revelaram que os executivos da empresa se reuniam em uma “sala blindada” para tratar de fraudes contábeis. O espaço fica localizado no 2º andar da sede da Americanas, no centro do Rio de Janeiro

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O esquema de irregularidades foi descoberto depois da saída do ex-CEO Miguel Gutierrez da empresa. O executivo estava na lista de procurados da Interpol e foi preso em Madri, na Espanha, na última sexta-feira, 28.

Esquemas de fraude contábil descobertos

As fraudes na Americanas envolvia a falsificação de dados em duas operações principais. A mais crítica era o risco sacado, no qual bancos ofereciam crédito a fornecedores que descontavam faturas e depois cobravam a Americanas.

Outra irregularidade ocorria por meio da falsificação de cartas de venda de propaganda nas lojas, conhecidas como VPC, na qual os fornecedores pagavam pela exibição de seus produtos.

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A investigação mostrou que essas cartas eram falsificadas para indicar que a Americanas tinha mais a receber dos fornecedores do que o que foi acordado.

Mensagens de WhatsApp revelam detalhes

Mensagens de WhatsApp obtidas pelos investigadores revelaram que os executivos da Americanas discutiam na “sala blindada” a preocupação de que a auditoria independente descobrisse as operações de risco sacado, que não apareciam nos balanços oficiais.

Havia um particular receio com as “cartas de circularização”, nas quais os bancos informavam as auditorias sobre operações realizadas, confirmando fatos contábeis e saldos.

“A audácia do grupo criminoso era tão grande que eles chegavam a cooptar funcionários dos bancos para que alterassem as cartas de circularização, de modo a encobrir as operações de risco sacado, garantindo assim a continuidade das fraudes contábeis e a não identificação pelas auditorias”, aponta o MPF.

Discussões internas e interferências

Em mensagens trocadas em fevereiro de 2017, no grupo “Auditoria 2016”, os executivos discutiam a preocupação com as cartas que seriam enviadas pelos bancos aos auditores.

Em uma das mensagens obtidas pelos investigadores, de 2 de fevereiro de 2017, Fábio Abrate – então diretor financeiro e de relações com investidores da B2W, braço digital do grupo – comenta que um dos bancos “errou a carta duas vezes”: “Estão confeccionando a terceira versão para mandar”.

“Vamos falar na blindada”, responde Luiz Augusto Saraiva Henriques, que atuava como diretor executivo de tesouraria das Americanas.

Quatro dias depois, Abrate relata no grupo que o banco “está com uma postura péssima”. “Sugiro nos reunirmos 8h30 na sala blindada”, escreve.

Interferência em documentos bancários

Os investigadores também obtiveram e-mails que mostravam funcionários deste banco solicitando sugestões de texto para as cartas enviadas às auditorias.

De acordo com o MPF, Abrate participava de um outro grupo no WhatsApp com executivos da Americanas, chamado “planejamento financeiro”, onde também discutia o perigo de a auditoria descobrir a operação de risco sacado.

Para o a polícia e a promotoria, Abrate interferiu junto a um outra instituição financeira para que omitisse da auditoria externa as operações de risco sacado.

“Boa tarde! Fabio como estamos com os bancos para retirar das cartas a info das operações com fornecedores. Vida/Morte para nós”, escreveu o então diretor operacional da B2W Timótheo Barros em 10 de julho de 2017, dando o tom da importância da questão para o esquema de fraude contábil.

No dia seguinte, Barros insiste no assunto, em referência aos dados da operação risco sacado: “Fabio como está o assunto das cartas de circularização com os bancos. Precisamos retirar isso das cartas.”

Resultados das interferências

Vinte dias depois, em 1º de setembro, Abrate confirma que esse segundo banco vai fazer a carta no modelo desejado, ou seja, sem o valor das operações.

“Assim, eles garantiam a continuidade das fraudes contábeis e a não identificação pelas auditorias”, aponta o MPF.

Segundo a colaboração premiada do ex-diretor executivo financeiro Marcelo Nunes, a operação de risco sacado atingiu a cifra de R$ 14,1 bilhões em 2021.

De acordo com o Ministério Público Federal, a audácia do grupo criminoso tamanha que eles chegavam a cooptar funcionários dos bancos para que alterassem as cartas de circularização, de modo a encobrir as operações de risco sacado.

“Assim, eles garantiam a continuidade das fraudes contábeis e a não identificação pelas auditorias”, aponta o MPF.

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Fonte: Revista Oeste


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