Delação de Cid: Marinha teria concordado com suposto golpe; o Exército, não

A reunião que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) teve, no ano passado, com a cúpula das Forças Armadas e seus ministros mais próximos não resultou em uma proposta de golpe de Estado porque a ideia de intervenção militar não foi aceita por unanimidade. É o que teria relatado o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em delação à Polícia Federal (PF).

 

Cid ainda teria citado à PF nomes como o do almirante de esquadra da Marinha Almir Garnier (foto em destaque), que teria afirmado ao ex-presidente que suas tropas estariam prontas para responder à convocação de Bolsonaro. O Comando do Exército, no entanto, teria ficado contra a ideia de golpe e contra o consequente impedimento da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 

Na delação, Cid ressaltou que participou da reunião com o então assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, que teria lhe repassado uma suposta minuta de golpe (que previa convocação de novas eleições e prisão de adversários políticos).

 

O almirante Garnier é o mesmo que se recusou a comparecer à cerimônia de entrega do cargo ao comandante Marcos Sampaio Olsen no governo Lula. Vale lembrar que no dia 13 de dezembro de 2022, um dia depois que bolsonaristas tentaram invadir a sede da PF em Brasília, houve as comemorações do Dia do Marinheiro.

 

Na ocasião, Bolsonaro mandou uma mensagem à tropa: “Os fuzileiros navais, com sacrifício da própria vida, lutaram e sempre lutarão para impedir qualquer iniciativa arbitrária que possa vir a solapar o interesse do nosso país”.

 

No evento, que aconteceu no Grupamento de Fuzileiros Navais em Brasília, Almir Garnier disse que Bolsonaro contava “com a minha, com a sua, com a nossa Marinha”.

 

 

A defesa do tenente-coronel Mauro Cid informou que não teve acesso aos depoimentos em questão e que, por isso, não pode confirmar o conteúdo. No entanto, não houve qualquer desmentido.

 

O Metrópoles tentou entrar em contato com a defesa do ex-presidente Bolsonaro, mas ainda não obteve retorno. O espaço para manifestação segue em aberto.

 

 

Já havia indícios de uma coordenação por golpe em outras investigações da PF. Durante operação para investigar suposta inserção de dados falsos nos sistemas de vacinação contra a Covid-19 do Ministério da Saúde, o aparelho de telefone de Cid foi apreendido.

 

A perícia no celular identificou trocas de mensagens, áudios e documentos sobre ações de cunho golpista com o objetivo de garantir a permanência do ex-presidente no Planalto, apesar da derrota nas eleições de 2022.

 

À época, o Metrópoles confirmou com a cúpula da PF que foi encontrada, por exemplo, a minuta de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), operação militar que permite apenas ao presidente da República convocar as Forças Armadas nos casos em que há esgotamento das forças tradicionais de segurança pública. Também havia, entre os conteúdos, tentativas de instituição do Estado de Defesa.

 

 

O tenente-coronel está vinculado a três investigações principais, analisadas pela PF: fraude em cartão de vacina da família Bolsonaro, desvio de presentes valiosos em suposto esquema que envolve o ex-presidente e articulação para tentar um golpe contra o estado democrático após a derrota de Bolsonaro contra o presidente Lula nas eleições de 2022.

 

Mauro Cid estava preso desde 3 de maio em Brasília, mas conseguiu o acordo de delação premiada, que foi homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O militar está afastado de suas funções no Exército. Contudo, mantém seu salário de R$ 27 mil, conforme previsto em lei.

 

Nas últimas semanas, Cid prestou uma série de depoimentos à Polícia Federal, inclusive no âmbito do inquérito que apura as ações do hacker Waler Delgatti Neto contra o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

 

Em uma das oitivas, a PF apurou se Mauro Cid participou ou se tem informações do encontro e das tratativas que o ex-presidente Jair Bolsonaro teve com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Nas conversas, os dois teriam discutido um plano para invadir o sistema do CNJ e também para contestar a efetividade do sistema eleitoral.

 

Metrópoles 

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Fonte: TBN


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