Especialistas rechaçam Arrozbras do governo Lula: “Erro histórico”

Arroz (Imagem ilustrativa) Foto: Unsplash | Pille Priske

Inúmeros especialistas têm alertado para os perigos envolvendo à mobilização do governo Lula (PT) para importar arroz e vender no mercado interno abaixo do preço e com sua própria logomarca. Para os analistas, trata-se de um “grande erro na política agrícola”, que gerará consequências como a desorganização do mercado, elevação de preços e prejuízos para os próprios produtores do Rio Grande do Sul.

É o que argumenta o produtor rural e ex-ministro da Agricultura do governo Collor (1990-1992), Antônio Cabrera. Em entrevista ao Gazeta do Povo, ele afirma que “se for pensar numa jogada em que tudo está errado, é exatamente essa do governo”. Em sua visão, a “agricultura se vingará no ano seguinte”, pois a iniciativa causará desestímulo para o plantio da próxima safra.

– Muita gente já não vai plantar mais arroz, porque se sentiu inseguro. Se for para cometer um erro, vamos tentar cometer um erro novo. Mas o governo está repetindo, e isso, desculpa a expressão um pouco forte, é uma estupidez – frisou.

Em coluna ao Estadão, o jornalista Fausto Macedo, que escreve sobre política, direito do consumidor e sociedade, discursou no mesmo sentido e chegou a comparar a medida com a que Nicolás Maduro tomou ao decidir vender gasolina abaixo do preço de mercado.

– Essa intervenção no mercado vai representar um desestímulo à plantação de arroz no Brasil, porque os agricultores terão prejuízos. Ao fazer esse tabelamento, que desestimula o plantio, possivelmente ficaremos dependentes da importação de arroz, quando somos autossuficientes e exportadores. Isso representa uma intervenção semelhante àquela que vimos Nicolás Maduro fazer na Venezuela, quando resolveu vender a gasolina tão barata e muito abaixo do preço de mercado. Apesar de o país ter a maior reserva de petróleo do mundo, a medida desestruturou toda a indústria petrolífera do país – enfatizou.

Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do estado (Farsul), também destacou a autossuficiência do Brasil no abastecimento de arroz. Para ele, a importação é “desnecessária”, pois aproximadamente 84% da safra gaúcha de arroz já havia sido colhida antes das enchentes, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em sua análise, Cabrera foi mais um a expressar preocupação com o destino do arroz excedente. Ele recorda que a campanha de Collor à presidência teve como uma das bandeiras o discurso contra esse tipo de iniciativa. À época, o candidato à presidência exibiu imagens de arroz apodrecendo nos armazéns estatais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e de 100 mil toneladas de carne importada contaminada pelo acidente nuclear de Chernobyl.

– O resultado foi catastrófico. Tomamos a decisão de que o governo não iria mais importar alimentos e que tal iniciativa, se necessária, seria tomada pela iniciativa privada. A partir de Collor, o governo não teve mais estoques públicos e esse foi um dos motivos para o agro ter se tornado o que é hoje – acrescentou.

ABUSO DE PODER POLÍTICO?
Outra problemática enxergada pelo ex-ministro é o fato de o governo estar planejando vender arroz com sua logomarca em ano de eleições. Ele questiona uma suposta inércia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) diante desse caso.

– Nunca vi um abuso político como esse. O governo vender arroz no mercado, embalado com marca própria, às vésperas de uma eleição, é algo inacreditável. Eu diria que um TSE [Tribunal Superior Eleitoral] sério deveria dar 24h para o governo se explicar – destacou.

Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado Pedro Lupion (PL-PR) demonstrou a mesma preocupação.

– Vender arroz com a marca do governo federal é abuso de poder político – assinalou.

STF E TCU SÃO ACIONADOS
Nos últimos dias, a própria Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) por meio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI).

Para a entidade, a chamada “Arrozbras” do governo deve desestabilizar a cadeia produtiva, “criando instabilidade de preços, prejudicando produtores locais de arroz, desconsiderando os grãos já colhidos e armazenados, e, ainda, comprometendo as economias de produtores rurais que hoje já sofrem com a tragédia e com os impactos das enchentes”.

Parlamentares do Partido Novo também se mobilizaram contra a ação do governo, acionando o Tribunal de Contas da União (TCU). Os representantes da sigla pedem a anulação do aviso de compra, utilizando como argumento o anúncio oficial do governo gaúcho de que as enchentes não geraram risco para o abastecimento de arroz no Brasil.

“ERRO HISTÓRICO”
Também ao Gazeta do Povo, o ex-servidor da Conab, Carlos Cogo, antecipa que o controle artificial do governo ao preço do arroz pode gerar também a diminuição da área de plantio do arroz, que antes tinha previsão de aumentar de 8% a 10%.

– Quem vai plantar arroz sabendo que o governo vai despejar depois um produto subsidiado com preço controlado? Ele quer estimular o arroz, mas se os preços subirem, vai entrar no mercado e derrubar o preço, é isso? É um erro histórico. Nós vamos contar para as próximas gerações esse erro, é daqueles que entram para o manual sobre o que não fazer numa economia de política agrícola no país – frisa Cogo.

Na visão de J.R. Guzzo, colunista do Gazeta do Povo, a “‘Arrozbras’ de Lula é coisa de ditadura subdesenvolvida de terceira categoria” e deve durar apenas até os “estrategistas de comunicação de Brasília acharem que” a medida “já rendeu o que tinha que render”.

Para ele, o governo simula uma crise de abastecimento para fingir que o presidente Lula (PT) conseguiu conter o preço do arroz.

– A decisão do governo, além de demagogia em estado bruto, também é flagrantemente lesiva ao interesse público. (…) O problema, nessa história toda, é que o Brasil não precisa de um único quilo de arroz importado. Ao contrário. A safra deste ano é 600 mil toneladas superior ao necessário para abastecer o mercado interno. Na verdade, os produtores terão de exportar esse excedente, ao mesmo tempo em que o governo estará comprando arroz no mercado externo. É possível, até, que os graneleiros se cruzem no mar, uns levando e outros trazendo arroz – ironizou.

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Fonte: Pleno.News


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