Nobel de literatura, Svetlana Aleksiévitch diz: ‘Mundo não percebeu que Putin é um Hitler com novas tecnologias’

Para a escritora belarussa Svetlana Aleksiévitch, exilada na Alemanha desde 2020, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, é um autocrata. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta sexta-feira, 15, a autora citou as políticas que fazem do líder russo um perigo para o mundo.

“Putin é o novo Hitler, mas com novas tecnologias”, afirmou Svetlana, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015.

Às vésperas de Putin se encaminhar para a reeleição, a escritora considera que o Ocidente não faz o bastante para ajudar Kiev contra Moscou.

Svetlana, de 75 anos, mora atualmente em Berlim. Ela disse que não tem esperanças de voltar tão cedo a Minsk, capital da Belarus, onde foi criada. Svetlana é filha de pai belarusso e mãe ucraniana. Nasceu na Ucrânia soviética.

Escritora em exílio

A autora de Vozes de Tchernóbil (1997) se exilou para escapar da repressão do ditador bielorrusso Alexander Lukachenko, no poder desde 1994. Na ocasião, a autora foi uma das líderes da oposição civil que acusava Lukachenko de fraudar as eleições para se manter no poder.

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A autora coleciona uma extensa obra de não ficção, que documenta as experiências e emoções das pessoas comuns durante o ápice, a crise e o colapso da União Soviética (1922-1991).

Putin, o novo Hitler, segundo Svetlana

Para Svetlana, “o mundo ainda não compreendeu totalmente o perigo” de Vladimir Putin.

Em relação ao período soviético, Svetlana disse que não houve aproximação da democracia depois do fim da União Soviética (URSS). “Pelo contrário”, afirmou a escritora. “Agora, temos o antigo serviço soviético da KGB (atual FSB) no poder, e ninguém entende o que eles realmente querem. Fomos muito ingênuos de pensar que o comunismo estava morto. Estávamos tão errados. Agora ele está sendo restabelecido e volta para uma nova batalha.”

Sobre o seu possível retorno a Minsk, cidade onde cresceu, Svetlana lamentou que isso não aconteceria em breve. De acordo com ela, “as ditaduras ainda têm muitas reservas”. Com o exílio na Europa, Svetlana contou que não teve mais acesso ao material que resultaria em um novo livro.

Contudo, a ucraniana contou que está escrevendo um livro chamado Na Presença da Barbárie (tradução livre). A obra trata-se de como “o homem vermelho”, soviético, não morreu. Para a Nobel de Literatura, “ele está em nossas vidas”.

Lula, sobre Putin

Em dezembro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que iria convidar Putin para a cúpula do G20, em 2024. Em setembro do mesmo ano, Lula polemizou ao dizer que Putin não seria preso caso decidisse participar na próxima cúpula do G20 no Rio de Janeiro. Dias depois, voltou atrás.

Ao citar o líder petista, Svetlana disse à Folha que o fato “reafirma que o mundo não entendeu completamente quem é Putin e o quão perigoso ele é”.

Leia mais: “Lula, sobre morte de opositor de Putin na prisão: ‘Para que pressa de acusar alguém?’”

Para a escritora, o Ocidente teme perder o petróleo, o que leva a “uma grande cautela”. “Enquanto isso, Putin se torna ainda mais poderoso”, observou Svetlana. “Os políticos são míopes, porque não entendem quem é Putin. Ele vai se tornar um Hitler com novas tecnologias, alguém com armas nucleares também no espaço.”

Sobre a morte do líder opositor russo Alexei Navalny, em 16 de fevereiro, Svetlana disse que isso “só mostra que as ditaduras na Rússia e na Belarus se fortalecem”.

Vencedora do Nobel de Literatura de 2015, Svetlana possui uma obra ligada ao cotidiano da antiga URSS e sua pós-dissolução, com títulos como Vozes de Tchernóbil e O Fim do Homem Soviético. Em A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, de 1985, reuniu depoimentos de sobreviventes da Segunda Guerra Mundial.

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Fonte: Revista Oeste


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