Presos e perseguidos pela ditadura brasileira que elogiam seus carrascos

O que leva um sequestrado, torturado, preso e abusado a elogiar seu abusador e carrasco? Há sempre aquela velha teoria da síndrome de Estocolmo. A pessoa que é sequestrada se deixa envolver emocionalmente por seu sequestrador para estabelecer um laço de humanidade que o faz sobreviver ao terror, um laço que na verdade é uma ficção de elo com quem na verdade o está violentando. No Brasil, onde existe hoje uma ditadura do Judiciário que persegue e massacra pessoas em nome de uma falsa democracia, é um ponto ambíguo. Vira e mexe, há várias pessoas, inclusive vítimas desta ditatoga, que elogiam os perseguidores. A síndrome de Estocolmo se dá por uma tática psicológica de sobrevivência mental equivocada. No Brasil, não é só a questão de sobrevivência mental. É sobrevivência mesma, social, individual, no trabalho, na família. A ditadura do Judiciário brasileira quebra todas as possibilidades de existência de alguém que se coloca contra ela.

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Há alguns casos emblemáticos dessa tática melancólica de sobrevivência elogiando o carrasco. A primeira é a mais sórdida. A de cálculo de poder. Poder que deixa de poder fazer algo por vítimas da ditadura para se unir aos ditadores e preservar seu poder narcísico. Sergio Moro é exemplo. Moro estava à beira de uma cassação política de seu mandato de senador. Era e é visto com ódio tanto à direita como pela esquerda. Foi um herói nacional na Lava Jato que levou corruptos de colarinho branco à prisão pela primeira vez na história da república, inclusive a alta cúpula petista de poder. Depois entrou e saiu atirando do governo Bolsonaro, fazendo acusações nunca provadas. Ganhou inimigos por todos os lados por estas duas frentes de atuação. Por fim, o colocaram na parede, amaçando cassá-lo por uma estapafúrdia razão financeira. Moro não titubeou e foi beijar a mão de Flávio Dino, então seu antigo algoz. Foi beijar a mão do TSE, que, segundo ele, teria atuado em nome de valores democráticos. Esse mesmo TSE que censura e persegue pessoas por crimes de opinião. Moro, portanto, não quis construir um elo de sobrevivência afetiva, falso que seja, com seus carrascos. Moro quer sobreviver politicamente, fazer sobreviver seu mandato de senador, pura e simplesmente. Ganhou de presente a manutenção de seu mandato. Perdeu sua alma e seu caráter. É triste pensar que um homem que foi símbolo de justiça num país injusto, dominado por um establishment corrupto, tenha se vendido a esse mesmo establishment corrupto que um dia combateu. Fica a pergunta: Moro, quando combateu a corrupção no Brasil, estava atuando em nome de valores ou em nome do valor de seu poder e vaidade? Algumas boas ações podem ser movidas pelo mais sórdido dos vícios. Vaidade, tudo é vaidade…

Coronel Naime, mais um perseguido pela ditadura brasileira que elogia seus carrascos

O outro caso é o do coronel Naime, um homem destruído pela injustiça suprema que comandava forças de proteção do Estado e que foi preso sob a acusação esdrúxula de passividade na contenção dos invasores do 8 de janeiro. Naime fico preso durante um ano, perdeu saúde, teve sua vida destroçada e vilipendiada. Agora elogia seu carrasco, o juiz Alexandre de Moraes, por ter atuado fortemente contra os vândalos do 8 de janeiro. Atuação firme seria prender senhoras de 60 anos, líderes evangélicos, autistas, vendedores, pessoas comuns, por estarem em frente a quartéis ou por simplesmente estarem na Praça do Três Poderes e condenarem estas pessoas a penas de até 20 anos de cadeia em última instancia sem ter a recorrer? Naime sabe disso. Mas então por que elogia seu carrasco? Porque talvez seja a única forma de manter sua sobrevivência junto à sua família, junto a um mínimo de dignidade física, sem ter de voltar à masmorra da injustiça que o trancou. Naime sabe que se obrigou a vender sua alma ao demônio. Mas daria para condenar sumariamente um homem que tem a perspectiva de passar uma vida encarcerado por um crime que não cometeu e trocar sua miséria por um elogio ao carrasco que só quer seu endosso para libertá-lo? Naime percebe que os que silenciam e os que adulam a ditadura estão tendo vantagens.

É triste. O personagem central do celebre livro 1984 acaba vendendo sua alma à ditadura quando se vê torturado barbaramente e cede ao pedido de seu torturador para que a mulher que amava trocasse de lugar com ele na tortura. O personagem saiu livre da tortura, mas sua alma se tornaria eternamente torturada a partir daquele momento. A venda de princípios pode ter nuances? A sobrevivência de sua família, sua prisão eterna são torturas pesadas. No caso de Naime, poderia até receber perdão. Mas a venda da alma de um homem por um cargo no poder é algo inominável. Moro jamais será perdoado. 

O pacto dos presos e perseguidos

A ditadura é algo assim. Revela o caráter e o medo das pessoas. Desde os torcedores do carrasco, os ideopatas atuais, como aqueles da idade média que acompanhavam suplícios de pessoas torturadas em praça pública e que agora veem pessoas, vítimas do regime, sendo esmagadas, varridas do mapa, por até pessoas que são obrigadas a elogiarem seus torturadores, por poder da vaidade ou por sobrevivência mínima.

E curioso observar que esse tipo e pacto só é feito com pessoas poderosas. Naime e Moro têm prestígio e poder. Senhoras, pessoas comuns, que vivem hoje na cadeia, as pessoas comuns que têm contas bancárias bloqueadas, vidas arruinadas, como a de Cleriston, morto por omissão de juízes, morto sem uma acusação precisa, sem processo legal, sem justiça formal. A estas pessoas, humilhadas, massacradas e mortas em corpo e espírito, nenhum pacto é oferecido. São sumariamente massacradas pela ditatoga brasileira. E os poderosos que vendem suas almas não parecem enxergar estas pessoas. Só enxergam o próprio ego, espelhado na sola da bota do carrasco que lambem. 

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Fonte: Revista Oeste


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