Castração química para estupradores: o que o Congresso pode decidir

O Projeto de Lei (PL) 3.127/19, que prevê a castração química voluntária a condenados mais de uma vez por crimes sexuais, seguiu para a Câmara dos Deputados nesta semana, depois de ser aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, na quarta-feira 22.

De autoria do senador Styvenson Valentim (Podemos-RN), a matéria estabelece um tratamento voluntário a quem for reincidente nos crimes de estupro, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável.

Caso o criminoso aceite o tratamento hormonal, terá direito à liberdade condicional, que não pode ser inferior ao prazo indicado para o tratamento. Relator do projeto, o senador Ângelo Coronel (PSD-BA) fez algumas alterações no texto.

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O projeto inicial previa a castração física, com intervenção cirúrgica permanente a fim de conter a libido e a atividade sexual do estuprador. Caso optasse por essa medida, o juiz poderia extinguir a punição do preso. Coronel, contudo, entendeu que isso seria inconstitucional. Por isso, retirou o trecho do texto final.

Em seu relatório, o senador baiano destacou que a castração química é uma “resposta estatal” adotada por países como os Estados Unidos, o Canadá, a Coreia do Sul, a Áustria, a Rússia, a Suécia e a Dinamarca, além de ser considerada na Inglaterra, na França e na Itália.

A matéria prevê ainda que, mesmo que o criminoso escolha fazer o tratamento hormonal, cabe ao juiz avaliar se estão preenchidos os requisitos subjetivos que permitem ao criminoso retornar ao convívio social.

O relator acatou uma emenda do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), segundo a qual o agressor sexual deve ser mantido sob o tratamento hormonal por, no mínimo, o dobro do tempo da pena máxima possível, sendo acompanhando por uma Comissão Técnica de Avaliação. O colegiado deve oferecer um acompanhamento médico adequado ao detento a fim de evitar a reincidência.

Castração química é eficaz?

Segundo o psiquiatra Lucas Benevides, professor de Medicina do CEUB, o método pode ter impacto na redução da taxa de crimes sexuais, especialmente nos casos em que o delito estiver ligado a “impulsos sexuais descontrolados”.

“Estudos mostram que, em alguns casos, a diminuição dos níveis de testosterona, através da castração química, pode reduzir significativamente os impulsos sexuais e, consequentemente, a probabilidade de reincidência”, explicou Benevides a Oeste. “No entanto, a efetividade pode variar de caso a caso, e a castração química não deve ser vista como uma solução única ou infalível.”

Conforme o relatório do projeto, a reincidência do criminoso revela que ele tem uma “predisposição natural, cultural ou psíquica que o torna propenso à conduta sexual violenta”.

Mas, para o especialista, apesar de muitos crimes sexuais estarem relacionados a “impulsos sexuais exacerbados”, a motivação para tais atos ilícitos pode ser multifacetada. Isso porque os fatores psicológicos, sociais e comportamentais possuem papel significativo nesse contexto.

“A libido pode ser um fator importante, mas não é o único”, explicou o psiquiatra. “Alguns criminosos sexuais podem cometer crimes por razões de poder, controle ou sadismo, que não são necessariamente mitigadas pela redução da libido. Portanto, a castração química pode não ser eficaz em todos os casos.”

O procedimento de castração química envolve a aplicação de medicamentos, via oral ou por meio de injeções, que reduzem, de forma significativa, os níveis de testosterona no corpo.

“O objetivo é reduzir o desejo sexual e os impulsos relacionados”, contou Benevides. “É um procedimento reversível, ou seja, se a administração dos medicamentos for interrompida, os níveis de testosterona eventualmente retornarão ao normal.”

Os medicamentos mais comuns usados na castração química, segundo o médico, incluem:

Aumento de pena para crimes sexuais

Além da castração química voluntária, o texto prevê o aumento da pena mínima para os crimes de estupro, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável, sendo:

O projeto ainda estabelece que o poder público crie um programa nacional para atender os egressos da prisão condenados por tais crimes.

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Fonte: Revista Oeste


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