A agonia de outro menor apreendido no 8 de janeiro

“Ainda tenho pesadelos, principalmente porque ouvi policiais militares dizerem que ‘morreria gente’ naquele dia”, relatou à Revista Oeste o estudante Lucas Barbosa, adolescente apreendido durante o 8 de janeiro. “Às vezes, consigo sentir o cheiro do gás lacrimogêneo.”

Preocupado com os rumos do país em virtude da vitória de Lula e por ver a si próprio como alguém de direita, decidiu participar do que imaginava ser uma manifestação pacífica em Brasília, como outras no passado. Barbosa, contudo, acabou detido no interior do Planalto, onde havia se refugiado da quebradeira e das explosões na Praça dos Três Poderes. O tio, que iria acompanhá-lo no ato, desistiu horas antes.

No palácio, Barbosa testemunhou “cenas de terror”, como militares dando “rasteiras” em idosos e proferindo ofensas de todos os tipos aos manifestantes. Sem perguntar a idade do garoto, os agentes o colocaram algemado dentro de um ônibus lotado de pessoas que passavam mal. Nesse momento, o menino conseguiu ligar para a advogada Welrika Moreira, sua tia, e contou o que havia acontecido.

Por volta de 19 horas, Welrika chegou às dependências da Polícia Civil e informou que havia um menor naquela multidão. Isso porque, na ocasião, Barbosa tinha 17 anos hoje, tem 18. “O delegado se surpreendeu”, contou a advogada, ao lembrar que, rapidamente, a autoridade pediu que as algemas fossem retiradas e que houvesse uma revista para saber se havia outros na mesma condição de Barbosa.

Welrika observou que o sobrinho deveria ter sido encaminhado, inicialmente, à Delegacia da Criança e do Adolescente, o que não ocorreu. A advogada soube ainda da presença de outra adolescente apreendida com Barbosa. Welrika providenciou lanches e casacos para ambos, que foram obrigados a passar uma noite no local.

Medidas socioeducativas impostas ao adolescente do 8 de janeiro

No dia seguinte, Welrika contou que Lucas aceitou um acordo da Justiça para se livrar de medidas mais duras. A tratativa consistia em “medidas socioeducativas”: seis meses de sessões com uma psicóloga e dois de “trabalho voluntário”, que conseguiu cumprir em uma escola cívico-militar na capital federal, onde mora.

Conforme Barbosa, que afirmou não ter quebrado nada, durante as sessões a médica dizia que o que ele havia feito no 8 de janeiro era “coisa de terrorista”, “de Osama Bin Laden”.

Ainda de acordo com o jovem, ele tinha de responder se estava arrependido e se cometeria outra vez crimes como golpe de Estado. Todas essas informações iam para relatórios mensais. “No final do cumprimento do acordo, disseram que, talvez, eu só seria liberado se tomasse a segunda dose da vacina contra a covid-19”, lembrou.

Trabalhando hoje em uma lanchonete e cursando o 3º ano do ensino médio, o jovem sonha em fazer Direito.

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Fonte: Revista Oeste


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