‘O poder público está desorganizado’, diz vereadora, sobre atuação do Estado nas enchentes do RS

A população gaúcha enfrente um estado de calamidade em razão das enchentes, desde 1° de maio. A vereadora de Santa Maria (RS) Roberta Leitão (PL), que está na linha de frente dos resgates e das doações, se queixou da atuação do poder público. “Os heróis no Rio Grande do Sul são civis voluntários que doam”, conta a Oeste.

De acordo com ela, a maior parte da ajuda vem de civis, empresários e influenciadores. Segundo a vereadora, são essas as pessoas que se mobilizaram nas redes sociais e nas cidades afetadas pelos temporais no Rio Grande do Sul.

Por meio de vídeos e publicações, internautas reclamaram da postura do governo do Rio Grande do Sul, bem como de algumas prefeituras e do governo federal. Roberta revela a Oeste os desafios que enfrenta para enviar materiais e alimentos a pessoas que ainda estão desabrigadas em vários pontos do Estado.

Como o poder público está atuando no RS?

O poder público atua de forma atabalhoada e desorganizada. Infelizmente, o Rio Grande do Sul e Santa Maria não se prepararam para situações de calamidade como essa. Portanto, não há protocolos de trabalho para as situações de crise. Há muito auxílio da sociedade civil.

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O que a senhora espera do Estado nas ações daqui para frente?

Espero que haja organização na gestão, unicidade de informações e direcionamentos. A criação de uma central de informação eficiente para a comunidade sobre os serviços essenciais e os atendimentos nesse momento. As pessoas não sabem onde doam, o que doam, quais os critérios para recebimento dos donativos, das lonas, por exemplo. É essencial a centralização dos grupos que fornecem marmitas prontas para que todas as comunidades sejam atendidas e não haja desperdício. Outro fator que atrapalha muito o trabalho é a falta de dados e cadastros das pessoas em situação de maior vulnerabilidade por parte do Poder Executivo. Muitas comunidades não foram acessadas porque foram esquecidas. Sobretudo, espero que a burocracia da administração pública não atrapalhe a ação civil do voluntariado.

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O que a senhora testemunhou?

Estou envolvida no atendimento da tragédia desde a última terça-feira, 30. Atuei junto à mesa diretora da Câmara para cancelar as atividades legislativas já na terça-feira. Atendi as pessoas que atingidas naquele primeiro momento e foram abrigadas no Centro Desportivo Municipal (CDM). Fiz visitas, pedi doações e participei da logística para buscar os donativos e entregar no CDM. Em 1° de maio, sofremos o primeiro desmoronamento na Rua Canário, em Santa Maria. O marido da moça que faz limpeza para mim teve a casa destruída. A casa foi levada pelo deslizamento. Ele e o filho autista de 16 anos deslizaram juntos, perderam tudo, mas graças a Deus tiveram apenas escoriações.

Como foi a sua participação nos resgates e doações?

Participei da montagem dos alojamentos, logística de recebimento de donativos, alimentos e conforto espiritual na paróquia. Graças a Deus, três mulheres grávidas de nove meses, já em trabalho de parto, foram resgatadas e tiveram seus bebês em segurança depois de mais de 72 horas sem comunicação. Além disso, 15 pessoas que passaram 48 horas ilhadas em Cruzeiro do Sul. Todos foram resgatados com vida. Ajudamos a comunicar ao resgate pessoas que precisam fazer hemodiálise e estavam no distrito de Arroio Grande, isolado e sem comunicação.

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Quais medidas a senhora tomou depois que notou a gravidade da situação?

Buscamos organizar as paróquias e ajudar na logística de arrecadação de colchões, de alimentos e de donativos. Usamos as redes sociais para pedir e organizar as doações, os voluntários e fazer a logística de separação, armazenamento, triagem e distribuição. Hoje, duas frentes agem na distribuição dos donativos arrecadados: Poder Executivo e Defesa Civil no CDM, na Paróquia de Santa Catarina e nas capelas localizadas em todos os bairros da cidade. Distribuem diretamente para as casas o que é arrecadado nas demais paróquias.

Quais os próximos passos? Há alguma projeção a médio prazo?

Como não havia planejamento e plano de contingência, é difícil dizer quais serão os próximos passos. É preciso restabelecer as condições das residências afetadas com material de construção, limpeza e aluguel social àqueles que perderam as casas ou tiveram suas residências interditadas. É preciso fazer a catalogação e distribuição das três toneladas de donativos recebidos, pois não podem e não devem ser estocados. Quando as águas baixarem, teremos que lidar com a incidência de doenças típicas dessas situações, bem como com o aumento da dengue que já havia se alastrado e se agrava na cidade. Por fim, precisaremos de força-tarefa na reconstrução da infraestrutura básica da cidade, que já era bastante precária, sobretudo nas vilas e no interior.

Quais as maiores necessidades de Santa Maria neste momento?

Ainda temos muitas pessoas isoladas, então, precisamos de meios eficientes de resgate rápido e de restabelecimento de ligação da cidade com os demais municípios. Hoje estamos praticamente isolados. As estradas de ligação às demais cidades foram todas danificadas, com exceção da BR158 até a Rosário do Sul.

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Fonte: Revista Oeste


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