TV Brasil faz especial sobre Lava Jato e minimiza corrupção

A TV Brasil, emissora estatal vinculada à Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), fez um especial sobre os 10 anos da deflagração da primeira fase da Operação Lava Jato em que minimiza a corrupção confessa na Petrobras. O programa optou por enfatizar acusações contra o ex-juiz e senador Sérgio Moro (União-PR) e a força-tarefa do Ministério Público Federal (MP).

Conforme editorial do Estadão, a TV Brasil gastou 88 minutos e 8 segundos para tratar das mensagens trocadas entre Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol, no caso que ficou conhecido como Vaza Jato.

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Outros pontos abordados foram a cobertura da imprensa sobre a Lava Jato, as prisões preventivas feitas pela operação e os prejuízos das empreiteiras investigadas.

O roteiro seguido pelo apresentador e os cinco convidados esteve alinhado ao discurso do presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Convidados alinhados com Lula

Para comentar as imagens que permearam o programa, estiveram presentes no estúdio, além do apresentador Leandro Demori, que é ex-diretor do The Intercept Brasil, portal que deu início à cobertura da Lava Jato, o desembargador Marcelo Semer e a advogada criminalista Dora Cavalcanti.

Dora, fundadora do Inocence Project Brasil e conselheira do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, também foi advogada de executivos da Odebrecht na Lava Jato.

Os jornalistas Luis Nassif, fundador do jornal GGN, Carla Jimenez, do UOL, e Florestan Fernandes Jr., do Brasil 247, portais alinhados ao governo Lula, completaram o grupo.  

O cenário

O cenário do estúdio contava com painéis exibindo imagens da ex-presidente Dilma Rousseff, da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e de apoiadores de Lula segurando cartazes com a frase “Lula Livre”, além de fotografias dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Dias Toffoli.”

Fotos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) abraçado ao seu ex-ministro da Justiça Sérgio Moro.

“Autópsia” da Lava Jato

Demori abriu a rodada de análises do “Especial 10 anos” informando ao telespectador de que seria feito uma “autópsia” da operação com base na “República de Curitiba” – alcunha dada por Lula em 2016.

Programa desconsidera fatos

A corrupção confessa na Petrobras ficou restrita a comentários dos convidados sobre a entrevista do ex-coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Zé Maria Rangel, que se candidatou a deputado federal pelo PT do Rio em 2022.

Ao programa da TV Brasil, o petista afirmou que “se tem desvio [na Petrobras], é pontual, não é algo sistemático, algo sistêmico”.

Rangel argumentou que a perda de R$ 6 bilhões em corrupção entre 2004 e 2012 na Petrobras, reconhecida no balanço da companhia de 2014, foi inexpressiva diante dos ganhos da petrolífera.

“Quanto que a empresa arrecadou neste período de 10 anos?”, indagou o petroleiro petista “R$ 3 trilhões, ou seja, 0,05% não quebra nenhuma empresa e nenhum sistema de auditoria consegue captar. R$ 6 bilhões é muito dinheiro, mas para uma petroleira que arrecada R$ 3 trilhões…”

O raciocínio foi legitimado pelo apresentador, “nenhuma auditoria pegaria”, afirmou Demori, complementando que “se fala pouco do que [a operação] destruiu a economia brasileira”.

O raciocínio foi legitimado pelo apresentador, “nenhuma auditoria pegaria”, afirmou Demori, complementando que “se fala pouco do que [a operação] destruiu a economia brasileira”.

Para o jornalista Luís Nassif dhavia um “departamento dentro da Petrobras que não era corrupção”, a área que definia os preços das obras.

Para o jornalista Luís Nassif dhavia um “departamento dentro da Petrobras que não era corrupção”, a área que definia os preços das obras.

“A empreiteira não podia ir acima do preço-base”, disse o diretor de redação do Brasil 247. “Essas propinas saíam da margem das empreiteiras.”

Sem Youssef e Odebrecht

Apresentador e convidados ignoraram a avaliação de que havia sim uma corrupção sistêmica na Petrobras, feita pelo doleiro e delator Alberto Youssef em depoimento em 2015. Assim como também desconsideraram a declaração do empresário Emílio Odebrecht de que a corrupção no Brasil era institucionalizada.

A empreiteira Odebrecht mantinha um departamento interno dedicado ao pagamento de propinas a agentes públicos.

A teoria de Lula e aliados

A teoria compartilhada por Lula e aliados é de que a Operação Lava Jato prejudicou a economia brasileira, especialmente a indústria da construção civil e o setor de óleo e gás, resultando na perda de milhões de empregos.

No entanto, essa visão não considera o impacto da corrupção revelada na Petrobras, que comprometeu o desempenho da empresa com provas de pagamento de propina em diversas diretorias.

Outra teoria

Em um dos momentos do programa, Nassif trouxe à tona uma teoria também mencionada por Lula, sugerindo uma possível conexão entre os Estados Unidos e a Operação Lava Jato.

O jornalista argumentou que a metodologia utilizada pela Lava Jato, com “operações espetaculosas” e prisões, teve início nos anos 2000 com o Departamento de Justiça norte-americano.

Lula, em uma entrevista de março de 2022, afirmou que a Lava Jato não tinha outra função “senão a de prestar contas ao Departamento de Justiça dos EUA”.

Acordos de leniência

Os acordos de leniência firmados pelas empreitas com a Lava Jato também foi abordados pelos debatedores.

Em fevereiro deste ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, atendendo ao pedido da empresa sob justificativa de garantir sua sobrevivência financeira e institucional, suspendeu o pagamento das parcelas do acordo da Odebrecht.

 “A pessoa física era estrangulada na sua liberdade para confessar”, afirmou a ex-advogada da Odebrecht,

“Mas também as empresas brasileiras, construtoras, foram forçadas a assumir programas de leniência pesadíssimos, se responsabilizando com pagamentos de valores absolutamente incompatíveis com a realidade, num cenário em que não havia outra opção”, concluiu Dora.

A Odebrecht fechou um acordo de leniência, homologado em 2016, e assumiu o compromisso de pagar R$ 3,8 bilhões. O valor corrigido chegaria a R$ 8,5 bilhões ao final da quitação. A Andrade Gutierrez se comprometeu a pagar R$ 1 bilhão.

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Fonte: Revista Oeste


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