Prática esportiva em Caraguatatuba contribui no desenvolvimento e inclusão de autistas

A prática do esporte, além de fornecer lazer e qualidade de vida para adultos, beneficiam ainda as crianças por proporcionar um momento de descarga de energia e entretenimento. O esporte se mostra ainda mais valioso e importante no caso de crianças com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), auxiliando em seu desenvolvimento e inclusão na sociedade. Em Caraguatatuba, isso vem sendo mostrado na prática.

Exemplos disso são os estudantes da EMEFEBS Ricardo Luques Samarco Serra (escola bilíngue), Raphael Macário e Raphael França, ambos com 13 anos e diagnosticados com autismo, que apresentaram melhoras em sua socialização, coordenação motora, fala e até mesmo em seu desempenho escolar após iniciarem a prática esportiva gratuita da Prefeitura de Caraguatatuba, por meio da Secretaria de Esportes e Recreação, de acordo com as próprias mães dos jovens.

#PraCegoVer: Raphael França prática movimentos de Karatê durante aula no Cemug (Foto: Luís Gava/PMC)

Rose França, mãe de Raphael França, que pratica karatê no Centro Esportivo Municipal Ubaldo Gonçalves (Cemug), relembra que a vida diária de seu filho não tinha muitas atividades externas, até que um dia, em uma visita do projeto Nova Onda Caraguá (Organização Social responsável pelo oferecimento das atividades esportivas em Caraguatatuba) na escola, despertou o interesse de seu filho em praticar a modalidade.

“Ele sempre começou outras atividades como futebol e tênis, mas sempre saia por conta de não se identificar com o esporte. O Karatê foi diferente, ele passou a ficar mais alegre, ia pra escola mais feliz, chegava contando o que aprendeu todo alegre”, diz.

“A sensei Maria ajudava muito, sempre trabalhando com muita paciência. Ela não se importa em parar para explicar quantas vezes for necessário. Eu esperei um tempo por que pensei que ele iria desistir, aí um dia ela me disse que o Raphael teria muito potencial, então comprei o kimono e foi o dia mais feliz para ele”, relembra.

De acordo com Rose, Raphael iniciou o Karatê assim que as atividades esportivas no município retornaram e hoje seu filho faz coisas que ele não fazia anteriormente, com sua coordenação motora sendo incentivadas. “Além disso, as notas na escola tem melhorado significativamente e ele não falta em uma aula”, conta.

“Ele mesmo se arruma pra ir treinar, eu não preciso pedir mais como antes. Hoje ele coloca a roupa sozinho, blusa de frio com zíper que ele não colocava. Está aprendendo a amarrar o kimono que nem eu sei. Esse resultado se dá muito pelo amor da sensei tem em ensinar. Ela se dedica, senta, explica, ela pergunta pra mim as coisas sobre ele, para uma melhor forma de lidar com o Raphael. Quem que faz isso se não por amor?”, complementa.

De acordo com a sensei de Karatê, Maria do Carmo, o Raphael é um menino muito inteligente, que presta atenção nos ensinamentos, sempre focado e detalhista.

“Deixo ele ficar à vontade, sempre no tempo e limite dele. Depois vou corrigindo. Os ensinamentos são iguais para todos , o diferencial  é a paciência e o amor, que vem da minha formação acadêmica e dos ensinamentos do meus pais desde pequena, que me ensinaram a ter empatia e amor pelo próximo, respeitando as diferenças e limites de cada um. A faculdade só forma as pessoas , mas se você não tiver dedicação, amor e tudo isso que foi falado, não vai ter resultado”, comenta.

Segundo a Terapeuta Ocupacional da Secretaria de Educação da Prefeitura de Caraguatatuba, Mariah Hartog Bricks, o esporte, além dos benefícios para saúde física e mental já conhecido para todos, é capaz de proporcionar para jovens e crianças dentro do espectro autista, benefícios em áreas que estejam prejudicadas, como a coordenação e planejamento motor, adequação de tônus, força e resistência muscular, controle viso-motor, equilíbrio; funções executivas e cognitivas, como memória de trabalho, atenção, concentração. Além de oportunizar vivências para socialização com seus pares, sejam eles crianças típicas ou atípicas, compreensão de regras sociais e desportivas e rotina.

“Tais competências motoras e de socialização são primordiais para o desenvolvimento de outras habilidades nas demais áreas da vida da criança, como sua participação em atividades do dia a dia, vestir-se com independência, comer sozinho; escrita, desenho, participação em sala de aula e muito mais”, explica.

Andreia Patrícia Macário, conta que como todo autista, Raphael Macário tinha dificuldades como seletividade alimentar, noção de espaço, socialização e contatos físicos. “Por mais que as terapias ajudassem, percebi que ainda estava faltando algo e foi ai que o esporte entrou em nossas vidas. Matriculei ele em março no Jiu Jitsu, com a intenção de o fazer ganhar equilíbrio e perder peso, só não esperava que isso iria nos ajudar a superar suas dificuldade”, explica.

“Quando ele entrou, a professora Camila Mesquita nos acolheu super bem e deu todo suporte para cada dificuldade do meu filho, o fazendo amar a modalidade. Ela foi a primeira a acreditar nele e tem toda paciência e vontade de ajudá-lo a vencer seus limites”, continua.

#PraCegoVer: Professor conversa com alunos na piscina do Cemug durante aula (Foto: Luis Gava/PMC)

A mãe de Macário concluiu que o esporte ajudou no autismo e na vida de seu filho, fazendo com que Raphael levasse para a casa os conhecimentos do Jiu Jitsu, como obediências de regras, controle de força, socializar com amigos e colegas e também em seu equilíbrio.

“Hoje, através do esporte, meu filho é mais feliz, tem amigos e está superando suas dificuldades, melhorando seu comportamento na escola e nas atividades. Apesar de pouco tempo, já colhemos grandes frutos e eu sou extremamente grata ao Jiu Jitsu e a profissional que acreditou no meu filho e ajuda a superar seus limites”.

Para a professora de Jiu Jitsu, Camila Mesquita, foi o primeiro contato dela com um aluno com espectro. “No início ele chegou agitado, beliscando, não conseguia fazer os exercícios específico do Jiu Jitsu que ajudam na coordenação motora, mas as técnicas ele aprendeu fácil e foi quando percebi que ele consegue fazer certinho, era só questão de persistência, pois ele é muito inteligente e aprende fácil”, explica.

“Na primeira semana de aula ganhei um abraço dele e ele pulou no meu colo, aí ali percebi que ganhei mais que um aluno, foi o que me motivou mais ainda. A mãe dele é super esforçada e foi peça fundamental para me ajudar nas aulas. Uma super-mãe que acredita e deposita todo seu tempo, esforço e carinho nele”, continua. “A evolução dele nos dá alegria, mostra o quanto a vida dele mudou e melhorou. A principal técnica é o amor e carinho com ele”, finaliza.

Segundo o secretário de Esportes e Recreação de Caraguatatuba, Edvaldo Ormindo, o esporte é uma das ferramentas mais importante quando o assunto é inclusão social. “Atividades desse tipo ajudam no crescimento pessoal, promovendo a convivência em grupo, respeito ao próximo e diversos outros aspectos e vimos como pode ser importante para jovens com o espectro”, diz.

“Enquanto administração pública queremos sempre atingir o maior número de pessoas possíveis na prática do esporte e temos o objetivo de capacitar os professores para que todos tenham capacidade de melhor atender as necessidades dos nosso alunos”, finaliza.

 Atividades esportivas

A Prefeitura de Caraguatatuba, através do projeto Nova Onda Caraguá, da Secretaria de Esportes e Recreação, oferece atividades esportivas gratuitas para todos os munícipes do município a partir dos 6 anos de idade.

As inscrições podem ser feitas através do site https://novaondacaragua.com.br/fichainscricao.

Após preencher os campos solicitados e anexar os documentos, um e-mail de confirmação será enviado. Para atendimento presencial, basta se dirigir ao Centro Esportivo Municipal Ubaldo Gonçalves (CEMUG), localizado na Av. José Herculano, 50.

A inscrição no local é realizada das 9h às 16h, de segunda a sexta-feira e é necessário apresentar cópias do RG, CPF e comprovante de endereço, além de cópia de atestado médico e uma foto 3×4 para realizar a inscrição.

Menores de 18 anos e pessoas com deficiência (PcD) devem estar acompanhados por um responsável legal munidos de cópias do RG e CPF.

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Fonte: Prefeitura de Caraguatatuba


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