Os construtores da ditadura brasileira e os omissos

Toda ditadura tem um único ponto positivo em toda sua malignidade: revela o caráter de pessoas. Alguns tipos de pessoas que brotam numa ditadura podem ser descritos. Assim como o poder não transforma, mas revela o homem, segundo o ditado popular, a ditadura revela o caráter de alguém. Diante do poder autocrático, uma pessoa pode se acovardar ou se tornar um mártir, se adaptar, tentando entre a encenação e o esboço de uma verdade, combater a tirania, ou mesmo, se entregar completamente à omissão e à covardia. Medo todos têm, mas a coragem para enfrentar o medo é que distingue alguém de um covarde.

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Com as revelações do Congresso norte-americano das ordens abusivas da Justiça eleitoral de suspensão de perfis e conteúdos das redes sociais, formou-se um consenso quase mundial de que o Brasil não vive mais numa democracia. O mundo sabe que há algo de abertamente autoritário no regime brasileiro. Há portanto hoje no Brasil uma abertura bem maior à coragem de enfrentar de peito aberto o que o mundo já sabe: a ditadura do Judiciário brasileiro. Mas, então, por que ainda tantos homens de poder, incluindo juízes, governadores, senadores, deputados e até jornalistas famosos de direita, que é o espectro perseguido pela ditatoga tupiniquim, se negam a dizer a dizer, simplesmente a dizer, que existe uma ditadura no Brasil? 

Para alguns jornalistas e influenciadores, a explicação é básica: ajudaram a construir e lapidar esta ditatoga brasileira. No afã de destruir Bolsonaro, ajudaram a alimentar a narrativa de que o governo passado era “golpista, ditador, fascista, nazista e genocida”. Estes são os oportunistas que queriam se colocar numa oposição mais evidente, tanto a Bolsonaro quanto a um possível governo Lula, para que eles, jornalistas de uma direita  liberal limpinha, pudessem ter os holofotes para si. Mas afundaram-se na mais plena escuridão, tanto do ponto de vista midiático quanto moral, depois da eleição de Lula e a ascensão do regime supremo. A grande mídia, por sua vez, vendo a treva que ajudou a lapidar, vendo o mundo observar a sua omissão, se lança hoje em editoriais esquizofrênicos e contraditórios. O Estado de S. Paulo, a Folha de S.Paulo e até O Globo esboçam dizer que há abusos absurdos, mas não abandonam a narrativa de que a construção desses abusos foi “legítima” em razão da suposta ameaça de golpe, narrativa falaciosa que criaram por oportunismo político. Esses jornalistas pavimentaram o caminho para a tirania vivida pelo Brasil hoje. 

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Mas menos óbvia é a tradução viva da covardia e da omissão de pessoas que foram eleitas justamente pelo espectro conservador, por pessoas que hoje são perseguidas no Brasil, pessoas comuns condenadas a dezenas de anos na cadeia apenas por expressar uma opinião não condizente com a verdade absolutista imposta pelo Supremo Tribunal Federal. Governadores como Tarcísio Gomes de Freitas, Romeu Zema, Jorginho de Mello, Ronaldo Caiado, pouco ou nada dizem das perseguições de centenas de pessoas colocadas na cadeia ou no limbo da censura simplesmente por cometerem opiniões contrárias ao monopólio da verdade permitida pelo Supremo Tribunal Federal. Nada aconteceria a um governador de São Paulo ou de Minas Gerais que combatesse em palavras a ditatoga vigente. Por combater, leia-se simplesmente dizer o óbvio: há uma ditadura do Supremo Tribunal Federal. Nada aconteceria inclusive aos dois ministros do Supremo Tribunal Federal indicados por Bolsonaro. A cada silêncio ante uma ordem abusiva anuem, com sua omissão, aos desmandos perpetrados. 

Um homem morreu na cadeia sem julgamento por estar onde não devia. Um comediante ficou meses numa solitária sem saber o motivo. Uma senhora de 70 anos foi condenada a quatorze anos de cadeia por se esconder de bombas de efeito moral no fatídico 8 de janeiro. Exemplos assim abundam. Nenhuma palavra de juízes, de senadores, de governadores eleitos em nome da defesa da liberdade de expressão. Há uma lenda de que um gestor não se imiscui em questões de natureza política muito delicada. Uma hedionda mentira. De que serve um gestor que cuida de estradas, saúde e educação se pessoas são arrastadas  para a censura, para a prisão, para ruína financeira, simplesmente por expressarem sua opinião? Não se justifica uma estratégia a longo prazo desse silêncio. Pessoas presas, censuradas, arruinadas têm urgência. E essa urgência é dada pelo fato de que o mundo hoje vê e escuta estarrecido os abusos do poder Judiciário no Brasil.

O que contrasta com o silêncio dos poderosos que poderiam falar algo por uma real democracia e nada dizem é a voz contínua e progressivamente estridente dos opressores que ecoa no esgoto da História. Ministros do Supremo não hesitam em dizer que há uma conspiração de “extrema direita” para disseminar discurso de ódio, nazismo, fascismo e outras barbaridades mais. Percebam: quais presos ou censurados no Brasil o foram por discursos de apologia a nazismo, por exemplo? Todos foram censurados e presos por contestar a parcialidade ou a lisura do processo eleitoral e da justiça suprema. A tentativa de alimentar uma narrativa absurda que junta a acusação de falsos crimes a uma suposta organização com interesses mercantilistas de redes sociais para solapar a soberania nacional brasileira faria corar de vergonha o mais fanático e insano dos líderes de extrema esquerda da Revolução Russa.

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Mas esse discurso é alimentado em parte do mundo por pseudo-progressistas ministros do STF que agora precisam de um álibi para justificar a censura brasileira e criar uma espécie de ditadura subliminar de uma opinião única, como se construiu no país. O Brasil é exemplo para modelos de ditaduras progressivas no mundo todo. Há uma guerra cultural mundial. Uma guerra assimétrica no Brasil, porque quem poderia nos defender e tem voz para nos defender está calado. Por oportunismo, por covardia ou talvez porque queira fazer parte do poder tirano que cala o povo com a ajuda do silêncio desses que poderiam dizer algo e se calam. Talvez essas pessoas um dia digam algo, talvez quando todos estiverem falando da ditadura brasileira, quando o silêncio se tornar um crime escancarado de lesa humanidade. Mas aí, o silêncio desses será berrado na História como o som covarde de quem deixou por longos anos que a tirania prosperasse no Brasil como uma sombra que se estende nos olhos, ouvidos e línguas cortadas do povo brasileiro. 

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Fonte: Revista Oeste


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