Ministro da Economia da Argentina tem plano de emergência que aterroriza empresários e governadores

O governo argentino está cada vez mais enfraquecido. Trabalhadores e aposentados aguardam as ajudas econômicas prometidas para aliviar o último golpe inflacionário, medida anunciada no domingo pelo ministro da Economia e candidato presidencial Sergio Massa, que vem recebendo críticas. Um total de 12 dos 24 governadores provinciais e dezenas de intendentes municipais anteciparam que não pagarão o bônus de 60 mil pesos (US$ 162 , ou R$ 791) previsto para os próximos dois meses. Alguns argumentam que não podem pagar: estão com os cofres vazios. Outros não querem: consideram que se trata de uma medida eleitoral e destacam que os funcionários públicos se beneficiam de negociações salariais coletivas que limitaram seu poder de compra.

A rebelião das províncias e municípios soma-se àquela iniciada pelas câmaras empresariais, apoiada pela oposição. “As micro, pequenas e médias empresas não vêm atingindio há vários meses seus resultados econômicos e esta imposição vai agravar a perda”, anunciou a Confederação Argentina de Médias Empresas (Came), que agrupa as pequenas e médias empresas do país, em comunicado.

Os dois grandes rivais de Massa nas eleições de 22 de outubro, o economista ultraliberal Javier Milei e a conservadora Patricia Bullrich, prometeram cortar gastos públicos se chegarem à Casa Rosada e criticam o que chamam de “plano platita” de Massa. Para Milei, Massa quer “ganhar a eleição injetando dinheiro nas pessoas” e incentivou a população a não cair “nessa armadilha”.

— É um novo ato de populismo — denunciou o candidato do partido de extrema direita A Liberdade Avança.

Bullrich concorda com Milei. Na sua opinião, o candidato peronista “zomba de todo mundo” ao propor soluções baseadas em “maquiagem financeira e mais emissão monetária”.

O governo argentino garante que as grandes empresas têm condições de pagar o valor fixo e algumas autoridades ameaçaram multar as que não cumprirem a medida. A participação dos salários no PIB argentino caiu sete pontos desde 2017: passou de 55,6% do PIB argentino para 48,4% no primeiro trimestre deste ano.

Em contrapartida, a fatia do bolo dos empresários aumentou mais de três pontos percentuais desde então: passou de 35% para 38,4%.

O secretário da Indústria, José Ignacio de Mendiguren, lembrou que durante a pandemia grande parte dos empresários recebeu ajuda estatal para pagar salários e pediu que eles fizessem “um esforço extra” para alcançar a estabilidade macroeconômica.

O presidente argentino, Alberto Fernández, saiu em defesa de Massa.

— Tudo o que estamos fazendo é um pouco de justiça. Distribuir os maiores lucros de alguns, para que esses lucros cheguem a quem trabalha — disse Massa na quarta-feira, durante um evento público realizado na província de Catamarca, no norte do país.

O presidente também criticou as províncias que se recusam a distribuir o bônus entre seus funcionários públicos, especialmente a capital argentina, governada pelo oposicionista Horacio Rodríguez Larreta:

— Me chama a atenção que Catamarca e La Rioja possam pagar e a cidade mais opulenta da Argentina tenha dificuldades.

O bônus de 60 mil pesos faz parte de um amplo pacote de medidas apresentado por Massa para os próximos dois meses. O ministro da Economia também anunciou congelamento de preços — ou aumentos abaixo da inflação — para alimentos essenciais, tarifas de transporte público, combustível, medicamentos e planos de saúde. É uma bomba-relógio: depois das eleições, os preços certamente voltarão a disparar. Para financiar a despesa extra, o governo aprovou na quarta-feira uma ampliação orçamental, por decreto.

O candidato peronista procura recuperar a iniciativa após a derrota nas eleições primárias de 13 de agosto — nas quais a aliança governista União pela Pátrica ficou em terceiro lugar— e reduzir a incerteza econômica e social das últimas duas semanas.

Horas depois do anúncio dos resultados, o peso argentino desvalorizou 18% em relação ao câmbio oficial e a cadeia de comercialização ficou paralisada. Quando foi reativada, muitos produtos registraram aumentos significativos de preços. A difícil situação econômica ameaçou transbordar para as ruas quando se registaram saques em lojas de diferentes províncias e com eles reapareceu o fantasma do “corralito”, em 2001 — quando a Argentina viveu uma hiperinflação que obrigou o ex-presidente Raúl Alfonsín a antecipar em seis meses a entrega do poder ao peronista Carlos Menem (1989-1999), vencedor da eleição presidencial daquele ano.

Após a perplexidade inicial com a vitória inesperada de Milei nas primárias, seus principais rivais voltaram à disputa esta semana. A menos de dois meses das eleições, as sondagens mostram o candidato de extrema direita à frente e colocam Massa em segundo lugar, seguido de perto pela ex-ministra da Segurança macrista. Para vencer no primeiro turno, o mais votado precisa ter 45% dos votos ou 40% e dez pontos percentuais que o segundo. Caso contrário, haverá um segundo turno em novembro.

O Globo

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Fonte: TBN


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