João Doria é o candidato do PSDB à Presidência da República

Depois de prévias para lá de tumultuadas, os tucanos escolheram o governador de São Paulo, João Doria para disputar as eleições presidenciais de 2022. Doria derrotou o governador gaúcho Eduardo Leite e Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus.

A vitória do paulista nas prévias é a penúltima etapa de um projeto de poder traçado por Doria no dia em que se elegeu prefeito de São Paulo, em 2017. Aos olhos de qualquer eleitor mais atento, ele acertou o Edifício Matarazzo já mirando no Palácio do Planalto. Foi também com essa intenção que abandonou a prefeitura pouco mais de um ano depois de eleito para disputar o comando do Palácio dos Bandeirantes.

Candidato improvável em todas as eleições, Doria jamais mediu esforços — e sempre deixou os escrúpulos de lado — para atingir seus objetivos. Foi assim quando inventou a chapa “BolsoDoria” para tentar conquistar os eleitores de Jair Bolsonaro nas eleições ao governo em 2018 — e quando desfez a parceria imaginária um mês depois da vitória.

Naquele ano, pediu a um amigo, numa terça-feira, para encontrar-se com Bolsonaro no Rio de Janeiro três dias depois. Na sexta, a notícia do encontro já aparecia em diversos veículos de comunicação antes mesmo que o candidato à Presidência tivesse aceitado o convite. Doria já estava num avião a caminho do Rio quando descobriu que não seria recebido. Como prêmio de consolação, conseguiu uma foto ao lado de Paulo Guedes no jardim da casa de Paulo Marinho graças à insistência de Joice Hasselmann, que convenceu o futuro ministro a conceder esse favor.

A afoiteza prejudicou Doria desde a entrada no PSDB, o que causou problemas no convívio com caciques tucanos e criou fissuras internas incuráveis. Foi graças a Geraldo Alckmin, por exemplo, que Doria conseguiu o direito de concorrer às prévias à prefeitura. Em vez de retribuir o favor na eleição presidencial disputada por Alckmin dois anos depois, Doria preferiu ficar do lado, ainda no primeiro turno, de quem tinha mais chance de lhe transferir votos.

O derrotado

Eduardo Leite é o oposto do paulista. Eleito prefeito de Pelotas, ficou até o fim do mandato. Contrário a reeleição, deixou o cargo mesmo sendo o preferido no pleito e esperou dois anos até concorrer ao governo do Estado. Na disputa, apoiou Geraldo Alckmin explicitamente no 1º turno e fez gestos discretos de simpatia a Bolsonaro no 2º.

Articulador extremamente habilidoso, conseguiu governar contando com o apoio da maioria da Assembleia e, como maior mérito, sanou as contas do Estado — tarefa considerada impossível pelos antecessores. A elegância com que sempre atravessou as campanhas e a fama de cumprir a palavra, contudo, não foram suficientes para garantir a vitória nas prévias deste sábado. Agora, resta a Leite a chance de quebrar com a tradição gaúcha de não reeleger governadores. A visibilidade que conseguiu com certeza também lhe garantirá uma vaga na disputa presidencial de 1926, quando terá recém feito 40 anos de idade.

As prévias

As prévias do PSDB foram marcadas por turbulências. A votação teve início no domingo 21, mas foi interrompida por uma série de falhas no aplicativo utilizado no pleito. Poucos filiados conseguiram votar. A empresa escolhida para dar continuidade ao processo de votação foi a BeeVoter. O processo foi reiniciado às 8 horas deste sábado, 27.

Ao todo, votaram mais de 44 mil filiados ao PSDB, entre militantes e dirigentes partidários. Apenas 8% desse total haviam conseguido participar da votação no fim de semana passado. Além disso, a legenda levantou suspeitas de que tenha havido um ataque hacker ao sistema.

Na reportagem de capa da mais recente edição de Oeste, Silvio Navarro observa que o agora eleito João Doria precisará enfrentar o tradicional “fogo amigo”. O chumbo virá do Sul e de Minas Gerais, onde Aécio Neves ainda dá as cartas e joga pesado contra ele. O sonho de Doria, aliás, custará ainda mais caro se o seu vice, Rodrigo Garcia, perder a hegemonia tucana do Palácio dos Bandeirantes. Algo que dura desde que Mario Covas foi eleito em 1994, derrotando de vez o “quercismo” caipira.

Doria, hoje, é impopular às margens do Rodoanel e nos quilômetros que levam ao interior ou litoral, ainda que vá despejar milhões em obras nas cidades no próximo ano. Na capital, ele perdeu a confiança dos conservadores há muito tempo e tampouco seu sapatênis agrada aos “meio intelectuais, meio de esquerda” das mesas da USP e da Vila Madalena. A alternativa, agora, será vestir a capa do “Capitão Vacina” rumo a Brasília e contrariar os tecnocratas do gabinete anticovid para liberar logo o uso de máscaras. A partir do dia 11, elas não serão mais obrigatórias ao ar livre.

Outro ponto a ser considerado é que a cizânia dentro do partido pode produzir estragos ainda maiores na bancada da Câmara, que vem minguando eleição após eleição. Em 2018, os tucanos saíram das urnas com 29 cadeiras, a nona bancada da Casa, algo impensável para uma legenda que era protagonista na política. No Senado, atualmente o PSDB tem só seis representantes — o cearense Tasso Jereissati está licenciado.

Para o jornalista Augusto Nunes, o PSDB parecia a caminho da maioridade até dezembro de 2005, quando cometeu o primeiro de dois grandes equívocos que o tornariam igual a todos os outros. “Confrontados com a descoberta do mensalão mineiro, os caciques do PSDB não tiveram suficiente coragem para afastar da presidência nacional do partido o ex-governador Eduardo Azeredo”, afirmou Nunes.

Embora tenha sido o azarão em todas as eleições que disputou, Doria terá um caminho ainda mais árduo em 2022. A terceira via ainda é uma ideia improvável. E o governador de São Paulo tem a desvantagem de contar com a antipatia tanto dos bolsonaristas quanto dos lulistas. A um ano da eleição, continuam a existir apenas dois candidatos com chances reais de vitória.


Fonte: Revista Oeste


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