A menos de um ano da eleição, Lula e Bolsonaro lideram e veem nomes da terceira via ‘patinar’ nas pesquisas

Montagem/MATEUS BONOMI/AGIF/ANTONIO MOLINA/FOTOARENA/Robert Alves/MonumentalPesquisas apontam Lula na liderança, seguido por Bolsonaro; recém-filiado ao Podemos, Moro quer emplacar como nome da terceira via

A pouco menos de um ano da eleição, o cenário eleitoral ainda é nebuloso. Enquanto as pesquisas de intenção de voto indicam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida pelo Palácio do Planalto, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro, que polarizou com o PT no último pleito, diversos partidos políticos tentam viabilizar um nome para a chamada terceira via. No início do mês de novembro, o ex-juiz federal Sergio Moro se filiou ao Podemos e se apresentou como pré-candidato. Neste domingo, 21, ocorrem as prévias do PSDB, que escolherá o candidato tucano em uma disputa centralizada entre os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Outros nomes também já foram colocados, casos do ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PDT), do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). O MDB, por sua vez, ensaia lançar a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS).

Os pré-candidatos da dita terceira via admitem que a pulverização de postulantes é um empecilho, mas afirmam que este é o momento de apresentar nomes e propostas. O cenário, avaliam, será amadurecido até o fim do primeiro trimestre do ano que vem, quando deve haver um filtro nas candidaturas. A Jovem Pan preparou uma lista com os principais nomes da disputa e apresenta as articulações que têm sido feitas pelas cúpulas partidárias visando as eleições de outubro de 2022.

Jair Bolsonaro: depois de anunciar que estava “namorando” com três partidos do Centrão (PP, PL e Republicanos), o atual presidente da República deve se filiar ao PL, de Valdemar Costa Neto. Como a Jovem Pan tem noticiado, a filiação só deve ocorrer quando a legenda superar entraves para a composição de palanques em alguns Estados, como São Paulo, Piauí e Pernambuco. Com a eventual ida do mandatário do país para o Partido Liberal, aliados trabalham para que o Partido Progressistas (PP) indique o vice para chapa – nas últimas semanas, foram aventados os nomes dos ministros da Comunicação, Fábio Faria, e da Casa Civil, Ciro Nogueira. O entorno presidencial entende que, ao se filiar ao PL e atrair o PP para a chapa, Bolsonaro terá uma base de apoio mais sólida no Congresso em um eventual segundo governo. Em paralelo, o chefe do Executivo federal considera que é fundamental eleger o maior número de aliados para o Senado, onde sua gestão tem acumulado derrotas. Diferentemente de 2018, quando focou sua campanha nas redes sociais, a ida de Bolsonaro para um partido robusto sinaliza a preocupação do Palácio do Planalto com o tempo de propaganda eleitoral na TV.

Luiz Inácio Lula da Silva: depois de recuperar os seus direitos políticos em razão de uma decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, que anulou suas condenações no âmbito da Operação Lava Jato, Lula lidera as pesquisas de intenção de voto. Em um eventual segundo turno contra Bolsonaro, segundo pesquisa Datafolha divulgada na segunda quinzena de setembro, o ex-presidente venceria por 56% a 31%. O petista concentra votos na centro-esquerda e na esquerda, tem em seu radar acordos com partidos como o PSB, o PSOL e o PCdoB, por exemplo, mas trabalha para ampliar seu arco de alianças. Em outubro, foi recebido pelo ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB) para um jantar – o ex-presidente tem bom trânsito com a velha guarda do MDB desde os tempos em que governou o país. Por fim, aliados tentam emplacar uma costura que alce Geraldo Alckmin, ainda filiado ao PSDB, ao posto de vice na chapa para outubro do ano que vem. Alckmin não rechaçou a possibilidade publicamente, mas como a Jovem Pan mostrou, aliados afirmam que o ex-governador “gosta de governar São Paulo”. Entre as siglas do Centrão, base de apoio do governo Bolsonaro, Lula mantém conversas com dirigentes do PL e do PP com trânsito na região Nordeste. Outra prioridade do PT é expandir a bancada do partido no Congresso Nacional.

Ciro Gomes: terceiro colocado na eleição de 2018, Ciro Gomes será novamente o candidato do PDT, de Carlos Lupi, à Presidência. O ex-ministro da Integração Nacional chegou a suspender a sua pré-candidatura após a maioria da bancada pedetista na Câmara dos Deputados votar a favor da PEC dos Precatórios no primeiro turno de votação. Com a reversão dos votos na segunda votação, Ciro retomou sua pré-campanha, que tem sido marcada por críticas aos dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas: Lula e Bolsonaro. Em entrevistas e em publicações nas redes sociais, o pedetista costuma dizer que a corrupção nos governos petistas alimentou o sentimento antipolítica que resultou na onda bolsonarista de 2018 – o marketeiro do candidato do PDT é João Santana, ex-guru do PT. Nos últimos dias, Ciro Gomes também tem feito críticas ao ex-juiz Sergio Moro, a quem já chamou de “engodo”, “o político que fingia ser juiz” e “incompetente”.

Sergio Moro: o ex-juiz da Lava Jato mandou prender o ex-presidente Lula, se tornou ministro da Justiça do governo Bolsonaro, deixou a gestão acusando o presidente da República de tentar interferir politicamente na Polícia Federal, foi declarado parcial pelo Supremo Tribunal Federal e, no início de novembro, se filiou ao Podemos, presidido pela deputada federal Renata Abreu (SP). Como a Jovem Pan mostrou, aliados apostam que Moro será o candidato da terceira via mais competitivo pelo potencial de concentrar os votos de eleitores que rejeitam o PT, votaram em Bolsonaro em 2018, mas estão desapontados com a atual administração do país. Em seu discurso de filiação, ele afirmou que deixou o governo porque teve o seu trabalho “boicotado”, uma vez que “foi quebrada a promessa” de que o combate à corrupção seria uma das prioridades da gestão. “Chega de Petrolão, chega de Mensalão, chega de rachadinha, chega de Orçamento secreto”, disse em outro momento. O ex-ministro da Justiça tem sido questionado sobre outras propostas para o país, uma vez que sua imagem é estritamente ligada à pauta anticorrupção. Nesta semana, em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, da TV Globo, o ex-ministro da Justiça disse que seu conselheiro econômico é o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. Em dezembro, Moro fará uma incursão no Nordeste, reduto eleitoral de Lula, para promover o lançamento de seu livro “Contra o Sistema da Corrupção”.

Eduardo Leite e João Doria: os governadores do Rio Grande do Sul e de São Paulo, respectivamente, polarizam as prévias do PSDB, evento que será realizado no domingo, 21 – o terceiro candidato é o ex-senador e ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto. A cúpula do tucanato avalia que o vencedor terá o desafio de unificar o partido após uma disputa fratricida, que expôs a legenda. Uma ala influente da sigla, liderada pelo deputado federal Aécio Neves (MG), defende que o PSDB não tenha um candidato à Presidência e aposte no crescimento das bancadas no Legislativo – na eleição de 2010, os tucanos tinham 53 deputados na Câmara; na atual legislatura, são 33. Aécio também é um adversário interno de Doria, que já pediu a expulsão do parlamentar mineiro dos quadros do partido. Sempre que questionado sobre a possibilidade de ocupar o posto de vice-presidente, Eduardo Leite afirma que não abriria mão do governo gaúcho se esta fosse a condição. Doria, por sua vez, já admitiu que poderia desistir da candidatura por uma unidade da terceira via – apesar da sinalização, o plano A do governador paulista é ser o cabeça de chapa na disputa pelo Planalto. Além da conflagração interna, Leite e Doria terão o desafio de crescer eleitoralmente: a pesquisa Datafolha de setembro mostra os dois governadores oscilando entre 3% e 5%. O resultado das prévias também terá impacto nas articulações do PL para filiar o presidente Jair Bolsonaro. Entenda na reportagem da Jovem Pan.

Rodrigo Pacheco: o presidente do Senado se filiou ao PSD, de Gilberto Kassab, no final do mês de outubro. O evento ocorreu no Memorial JK, em Brasília. De acordo com o partido, o local foi escolhido em razão das convergências políticas entre o ex-presidente Juscelino Kubistchek e o atual parlamentar. Em seu discurso, o senador disse que “a economia não deslancha” e citou o peso da inflação no dia a dia da população brasileira, mas ponderou que não irá antecipar as discussões de ordem político-eleitoral. Pacheco foi eleito para o comando do Congresso com o apoio do governo Bolsonaro, mas, nos últimos meses, tem se distanciado do Palácio do Planalto, com quem diz manter um bom diálogo e uma atitude de “pacificação e moderação”. Segundo o Datafolha, Pacheco tem 1% das intenções de voto.

Luiz Henrique Mandetta: depois que Rodrigo Pacheco trocou o DEM pelo PSD e o jornalista José Luiz Datena, da TV Bandeirantes, deixou o PSL para também migrar para o PSD, o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro passou a ser o único pré-candidato do União Brasil, resultado da fusão do DEM com o PSL, à Presidência da República. Deputado federal por dois mandatos, Mandetta não disputou a eleição de 2018 e diz a interlocutores que quer trocar o Legislativo por um projeto nacional. O ex-ministro da Saúde deixou o governo em abril de 2020 por discordar das diretrizes de Bolsonaro para o combate à pandemia do novo coronavírus, em especial, a defesa da cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz. Quatro anos antes, militou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Entusiasta da terceira via, seu nome ainda não decolou: no Datafolha de setembro, Mandetta marcou 2% e 3% em dois cenários estipulados.

Alessandro Vieira: senador de primeiro mandato, eleito em 2018, é o pré-candidato do Cidadania à Presidência da República. O parlamentar se notabilizou durante a CPI da Covid-19, em razão dos questionamentos técnicos feitos nas oitivas. Entre os colegas, inclusive, ganhou o apelido de “o delegado da CPI” – ele é delegado de Polícia Civil. Vieira é um crítico contumaz dos governos petistas e da gestão de Jair Bolsonaro. Ao lançar sua pré-candidatura, o senador disse que a discussão política no Brasil não pode ficar centralizada “entre quem rouba mais e quem rouba menos”. No dia 12 de setembro, em um ato contra Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, o pré-candidato foi às redes sociais defender o fortalecimento da terceira via. “Chega de populismo, corrupção e ausência de um projeto que nos conduza para o futuro. Hoje juntamos gente que pensa diferente, mas se une no principal: a luta por um Brasil forte e democrático”, escreveu no Twitter. No Datafolha de setembro, Alessandro não pontuou.

Simone Tebet: líder da bancada feminina no Senado e ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, a senadora também ganhou projeção durante os trabalhos da CPI da Covid-19. Na oitiva da servidora Regina Célia de Oliveira, fiscal de contratos do Ministério da Saúde, a emedebista elencou mais de 20 erros em uma das invoices (uma espécie de nota fiscal) apresentadas pelo governo Bolsonaro para rechaçar a ocorrência de irregularidades na negociação para a compra da vacina indiana Covaxin. Formalmente, o MDB, de Baleia Rossi, ainda não oficializou o nome da parlamentar, mas, nas redes sociais, o partido tem feito publicações com a hashtag #DigaSim, em alusão ao nome da integrante do partido. No Twitter, Tebet curtiu a postagem e interagiu com seguidores que a classificam como “o melhor nome da terceira via” e “nossa pré candidata a presidente”. Segundo apurou a reportagem, o lançamento deve ocorrer, no máximo, até a primeira semana de dezembro. No final de julho, o Paraná Pesquisas divulgou um levantamento que aponta a senadora com a menor rejeição em um cenário com Lula, Bolsonaro, Ciro, Doria, Leite, Mandetta e Pacheco. Em contrapartida, ela tem a maior taxa de desconhecimento. No Datafolha de setembro, a parlamentar aparece com 2% das intenções de voto.


Fonte: Jovem Pan


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