Bolsonaro não esconde de ninguém que está perdendo a paciência com Weintraub

Dida Sampaio/Estadão ConteúdoAbraham Weintraub foi ministro da Educação de abril de 2019 até junho de 2020

Não bastassem os problemas que o presidente Jair Bolsonaro arruma para ele mesmo, agora está irritado com seu ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, que regressou ao Brasil para ser candidato ao governo do Estado de São Paulo. Aquela velha amizade já era. O ex-ministro da Educação permaneceu nos Estados Unidos desde junho de 2020, quando teve de deixar a pasta da Educação e passou a ocupar o cargo de diretor-executivo do conselho do Banco Mundial, indicado por Bolsonaro. Teve de deixar o Ministério da Educação depois dos violentos ataques que fez aos ministros do Supremo Tribunal Federal, ofensas públicas à China e por sua conduta polêmica no próprio ministério. Chegou a um ponto que não dava mais para segurar o ministro no seu cargo no Brasil. Ao se referir aos ministros do STF, por exemplo, costumava dizer que, por ele, “colocava todos eles na cadeia”. 

Se de fato lutará para ser candidato ao governo de São Pauilo, o ex-ministro provocará um racha na base bolsonarista. Weintraub sabe que o presidente escolheu o nome do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, como seu candidato ao governo paulista, mas insiste na sua candidatura. Fora isso, Weintraub juntou-se ao ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para falar mal do presidente, especialmente por ter se unido ao chamado Centrão. Bolsonaro não esconde de ninguém que está perdendo a paciência. Weintraub já está na relação de desafetos. O ex-ministro não está preocupado e trata do assunto até com desdém, dizendo que é conservador, antissistema e não deseja ficar batendo papo furado com quem tem ligação com esquema de corrupção. Os ataques a Bolsonaro são pesados, tipo: “Os conservadores foram substituídos por essa turma”.

O presidente está irritado. Teme que isso vai prejudicar seus planos de eleger o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que é seu candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Pelas redes sociais, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL) tentou fazer com que Weintraub desistisse dessa ideia, chamando-o de “companheiro”, sugerindo que ele se candidate a deputado federal. Weintraub respondeu agressivamente: “Primeiro, não sou seu companheiro. Aliás, isso é termo de esquerda”, disse ele. A seguir, observou que a sugestão de Janaína é muito falsa e interesseira. A conversa terminou aí. Weintraub tem declarado que será candidato ao governo paulista fora da influência do presidente Bolsonaro. Já vem negociando com um partido nanico, em que possa mandar em tudo e desembarcar com sua turma. É mais certo que se filie ao PTC, Partido Trabalhista Cristão. O ex-ministro não se mostra preocupado que, como candidato, será adversário do nome indicado pelo presidente. O principal articulador da candidatura de Weintraub é o advogado e ex-assessor no Ministério da Educação, Victor Metta, que também critica Bolsonaro, dizendo que ele reluta em tomar uma posição. Já o presidente do PTC, Carlos Roberto de Almeida, informou a Weintraub que o partido não poderá atender a todas as exigências feitas pelo ex-ministro, mas informou que está aberto para chegar a um acordo e viabilizar a candidatura.

Metta adianta que, no fundo, trata-se de uma militância bolsonarista que objetiva formar dois ou três partidos conservadores fortes que vão se coligar para vencer a eleição. O PTB já informou que fará parte desse grupo, especialmente agora que está expulsando da legenda nomes de esquerda e do centro. E aí entra a figura de Weintraub, que vem criticando Bolsonaro por sua aproximação com o Centrão. É bom lembrar que Bolsonaro está irritado. Não se sabe ao certo o que será daqui em diante. Weintraub não está disposto a abrir mão de sua candidatura. Como já afirmou, ele vem com o objetivo de radicalizar tudo para ser candidato ao governo paulista, doa a quem doer. Esse “doa a quem doer” é com Bolsonaro. Uma coisa é certa: se a candidatura de Weintraub for mesmo mantida, a base de Bolsonaro racha. Falta pouco para Bolsonaro explodir. Não está suportando as provocações de Weintraub. Aquela velha amizade não existe mais. O presidente vê no seu ex-ministro um traidor que ainda vai se arrepender do que vem fazendo.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.


Fonte: Jovem Pan


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