Deputados da base de Lula pedem ao STF para investigar Janones por fake news na campanha do presidente

Políticos de partidos que comandam ministérios no governo Lula aderiram a um movimento que pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) que tome providências a respeito do papel exercido pelo deputado federal André Janones (Avante-MG) na campanha vitoriosa do petista no ano passado. A Corte foi acionada depois que o parlamentar admitiu, em um livro a ser lançado em breve, ter compartilhado informações falsas ao longo da disputa presidencial com o intuito de “desestabilizar” o então candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).

Inicialmente, Janones era, ele próprio, aspirante à Presidência. Contudo, o mineiro optou por desistir da candidatura e declarou apoio a Lula, passando a atuar como uma espécie de consultor informal da campanha petista nas redes sociais. Na obra, que chegará nas livrarias em 20 de novembro, o deputado traz bastidores de sua atuação na corrida eleitoral e faz revelações sobre conteúdos inverídicos que ele teria ajudado a impulsionar, como revelou O GLOBO.

O conteúdo levou um grupo de 41 parlamentares, a maioria bolsonarista, a apresentar uma notícia-crime ao STF pedindo que Procuradoria Geral da República (PGR) investigue Janones. A manifestação entregue ao ministro Luís Roberto Barroso nesta segunda-feira inclui seis nomes que pertencem a partidos que, na teoria, integram a base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Assinaram o documento, por exemplo, os deputados Fred Linhares (DF) e Messias Donato (ES), ambos do Republicanos, e Evair de Melo (ES), do PP. Os dois partidos do Centrão ganharam um ministério cada no Planalto há cerca de dois meses, após uma longa negociação. André Fufuca (PP) passou a comandar a pasta do Esporte, enquanto Silvio Costa Filho (Republicanos) recebeu a de Portos e Aeroportos.

A iniciativa contra Janones, porém, também ganhou a adesão de políticos de siglas que estão na Esplanada desde o início do governo. O PSD de Sargento Fahur (PR), o MDB de Rafael Pezenti (SC) e o União Brasil de Rodrigo Valadares (SE) comandam, cada um, três ministérios na gestão petista. Os parlamentares de legendas governistas uniram-se a nomes do núcleo duro bolsonarista, como Paulo Bilynskyj (PL-SP), Marcos Pollon (PL-MS),Carla Zambelli (PL-SP), Mário Frias (PL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente.

As declarações de Janones estão presentes no livro “Janonismo cultural: o uso das redes sociais e a batalha pela democracia no Brasil”. O GLOBO obteve a íntegra do livro, de 176 páginas, divididas em 12 capítulos com títulos como “Janones, eu autorizo”, “Tocando o gado” e “Influencer não, político”.

No capítulo “O celular de Bebianno”, o parlamentar revela que inventou estar em posse do aparelho pouco antes do debate da TV Globo, o último antes do segundo turno, numa tentativa de abalar emocionalmente Bolsonaro. Advogado, Gustavo Bebianno conquistou a confiança do ex-presidente ainda durante a campanha de 2018 e assumiu o posto de secretário-geral da Presidência no início do mandato, mas deixou o cargo ainda nos primeiros meses da gestão, passando de aliado a desafeto.

Desde a sua morte, vítima de um infarto em 2020, circulam rumores de que o telefone de Bebianno armazenaria informações que poderiam comprometer membros do governo, inclusive o então chefe do Executivo. No livro, Janones afirma que, apesar de jamais ter chegado perto do “mítico aparelho”, insinuou que havia tido acesso ao conteúdo para “atormentar” o adversário político.

“Horas antes de o debate começar, publiquei uma foto minha segurando alguns papéis. A legenda dizia: ‘Tá tudo na mão do Pai, agora é com ele. Seja o que Deus quiser!’ O que Jair Bolsonaro temia? Que eu tivesse entregado documentos sobre Gustavo Bebianno para Lula às vésperas do último debate. Até eu me impressionava com minha capacidade de mexer com eles”, narra o deputado.

Em outra passagem, o deputado explica como fomentou uma fake news sobre a possibilidade de que o ex-presidente Fernando Collor assumisse um ministério em um eventual segundo mandato de Bolsonaro. A informação circulou largamente em perfis favoráveis a Lula nas redes sociais e chegou a aparecer, à época, entre os termos mais comentados nas redes sociais. Janones justifica a decisão citando uma fala na qual Bolsonaro afirmou que o ex-ministro José Dirceu voltaria ao alto escalão no caso de triunfo petista nas urnas.

“O ministro de Lula vai ser José Dirceu? Tá bom. Então o ministro da Previdência de Jair Bolsonaro vai ser Fernando Collor de Mello. Simples assim. Ele realmente seria ministro de Jair Bolsonaro? Eu sei lá. Mas uma vez que ele apoiou Jair Bolsonaro, poderia muito bem ser. Ele iria confiscar benefícios como a aposentadoria? Não sei, mas ele confiscou as poupanças quando foi presidente”, escreve o autor.

O Globo

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Fonte: TBN


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