‘Um estadista deveria enfrentar o aumento do déficit’, diz economista

As oscilações da Petrobras em relação ao pagamento de dividendos extraordinários se refletiu na performance das ações na B3, bolsa brasileira. No início de março, quando o Conselho de Administração definiu, seguindo os interesses do governo, que não seriam distribuídos os dividendos extraordinários, o valor de mercado da empresa teve uma forte queda, de cerca de R$ 50 bilhões.

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A situação melhorou quando, na sexta-feira 19, o Conselho alterou a diretriz e disse que a distribuição de dividendos extraordinários de até 50% do lucro líquido de 2023 não comprometeria a sustentabilidade da empresa. A distribuição, portanto irá ocorrer, o que fez ações da bolsa voltarem a subir. A PETR3 teve alta de 2,20%, indo a R$ 43,66, e a PETR4, de 2,27%, subindo para R$ 41,45.

Para o economista Haroldo da Silva, mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a Petrobras tem o poder de contribuir para a queda nos índices da B3 muito maior do que para a alta do dólar.

O que o governo, segundo ele, mais precisa ter é cuidado em relação a essas ingerências na empresa, que, dentro de um limite, são normais em todas as gestões.

“Há sempre muito ruído na Petrobras”, afirma Silva. “O governo precisa tomar muito cuidado para que estas ingerências que acontecem não descambem para processos piores mais deletérios como ficaram conhecidos os casos de corrupção passados.”

E, mais do que isso, desviar a atenção do governo para um problema ainda mais grave que, segundo ele, pode interferir diretamente no câmbio e propiciar a alta do dólar. Trata-se do controle dos gastos públicos. Aliado às instabilidades do cenário externo.

Problema maior do déficit gera críticas ao atual governo

São, segundo ele, fatores que têm contribuído para as recentes altas da moeda norte-americana.

“Não está muito claro o que vai acontecer no mercado norte-americano em relação aos juros, por isso essa oscilação do dólar, por um lado, somada à questão geopolítica com as atuais guerras”, diz Silva. “Há também a própria dificuldade que o Brasil está tendo em apresentar melhoria nas suas contas públicas.”

Silva faz uma crítica ao atual governo federal, que, segundo ele, tem se concentrado mais no aumento de receitas.

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“Do governo atual nesse processo, a gente só ouve falar de preocupação com a área de receita, de redução de subsídios, redução de benefícios fiscais tudo isso tem que ser encarado, mas o ponto central não está sendo encarado que é a redução de despesas, deste ímpeto de gastar mais.”

O economista admite que, em ano eleitoral, isso fica mais difícil. Mas não há outro caminho, independentemente do contexto. Esta cartilha deveria ser seguida pelo atual governo do presidente Luiz inácio Lula da Silva.

“Se alguém se considera estadista de fato deveria enfrentar essa questão de redução do déficit público.”

O deficit primário foi de R$ 249,1 bilhões em 2023, o maior desde 2020 e o segundo maior desde o início da série histórica do Banco Central, em 2002.

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Sobre distribuição dos dividendos da Petrobras, o que está em questão não é a distribuição ordinária, determinada pelas normas, e sim a do excesso de lucro que a empresa teve. Tal situação não deveria ser vista de maneira tão alarmante, segundo ele.

“A empresa pode distribuir o mínimo de lucro estabelecido pela norma, se ela tiver um plano de investimento claro e objetivo que necessite do reforço de caixa para fazer frente a determinadas questões estratégicas”, afirmou o economista, que considera a Petrobras uma empresa que, no geral tem tido um bom desempenho e é uma das mais atraentes para os investidores, apesar destas oscilações de mercado.

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Fonte: Revista Oeste


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